segunda-feira, 30 de abril de 2007

Ahh, Terry...:D

You scored as susan myers.

susan myers

88%

linette scavo

88%

gabrielle solis

38%

edee britt

31%

bree van de kamp

31%

which desperate housewives character are you?
created with QuizFarm.com

Bourbon who?

Hoje nos media portugueses:

"Principes de Espanha tiveram segunda filha".

Pessoalmente, estou-me cagando para Espanha e para a Monarquia.

domingo, 29 de abril de 2007

Quino

Joaquín Salvador Lavado, Quino


Encontrava-me a arrumar alguns livros infantó-juvenis, bandas desenhadas e livros de textos reminiscências dos meus dias puros e despreocupados de infância, quando o meu coração se partiu por não conseguir encontrar os livros da Mafalda.

Não seria nada de muito cruel, não fora o caso desses livros estarem autografados pelo próprio Quino, o genial cartoonista argentino, que um dia de 1984 esteve na Livraria Bertrand do Porto, para uma sessão de autógrafos, a que eu obriguei a minha família a levar-me.

Recordo-me como se fosse hoje, eu ainda não tinha 9 anos e já devorava esses livros e outros de BD um pouco menos rebeldes e contestatários. Ele virou-se para mim e perguntou “Ya?”, espantado como um fedelho já conseguia ler – e compreender, acrescento eu – as tiras da sua personagem principal.

Se hoje em dia eu tenho preocupações sociais, consciência política e contestatária e aprecio humor corrosivo, inteligente e de intervenção, eu devo-o à minha família e também a várias revistas e livros de humor que li durante a minha infância/juventude.

Naqueles tempos, eu lia três bandas-desenhadas de três países americanos diferentes em que as personagens eram um grupo de crianças.

A turma da Mônica do Maurício de Sousa, A Mafalda do Quino e os Peanuts de Charles Schulz. Desses três, foi sempre da Mafalda que gostei mais. Eu aprecio o traço e o legado de Schulz, mas nunca gostei muito do Charlie Brown, nem do mundo desprovido de adultos mas cheio de angústia existencial em que ele, o Snoopy e o resto dos seus amigos se movimentavam. Charlie Brown era um perdedor e sempre o será. Schulz era muito negativista, até para mim.

Como contraponto, eu gostava muito da Turma da Mônica, mas sempre tendo sido uma pessoa pessimista e amarga, em breve fiquei farto daquele mundo açucarado e cor-de-rosa que me tentavam impingir. Aquela pureza infantil era tão falsa, tão artificial. O mundo de Mônica não é deste mundo.

Já o mundo de Mafalda…ahh, esse era outra coisa. O mundo de Mafalda era o nosso mundo, na década de 1960/1970. O Vietname, os Beatles, os Stones, o movimento hippie, Cuba, a Guerra-fria, Chile… Mafalda era a crítica mais mordaz, mais ácida da América Latina e da Terra nos idos de 60 e 70. Mafalda era a voz do povo da América do Sul, do 3º Mundo, dos não alinhados, dos inconformistas contra o imperialismo capitalista do Ocidente e a repressão totalitarista do Bloco Soviético.

Mafalda, que tinha problemas com as autoridades, que tinha sempre algo a dizer que provocava ataques de nervos à professora, e aos pobres pais, representantes do mais puro conformismo e acomodamento da classe média latino-americana dessas décadas.

O seu irmãozinho Gui, que representava as gerações vindouras era para Mafalda um espelho aumentado da sua própria contestação.

Susanita, a maior amiga de Mafalda, e também a sua maior inimiga, representante de tudo que Mafalda despreza. O conformismo, a mentalidade tacanha, os sonhos limitados de se casar e ter filhos, a hipocrisia, a fofoquice, o apunhalar pelas costas.

Filipe, o sonhador Filipe, cujos sonhos e ambições dispensam o estudo e o trabalho pesado.

Miguelito, o descendente de italianos fascistas, que não conseguia disfarçar por vezes a sua admiração por Il Duce.

Manolito, o descendente de espanhóis, filho do dono da mercearia e a personagem mais materialista e trabalhadora, e menos inteligente e liberal (a ideia preconceituosa sobre as ex-metrópoles) do grupo.

E Liberdade, a amiga baixinha de Mafalda, cuja metáfora era visivelmente óbvia.

Todos eles com sentido crítico, mas sem nunca se esquecerem de ser crianças, de brincar, de ir a escola. Mafalda y sus amigos são uma voz adulta, mas são crianças. Se Charlie Brown tivesse preocupações para além das existencialistas, e se ao mesmo tempo vivesse por vezes no mundo da Mônica…seria a Mafalda.

O capitalismo é um círculo engraçado. Mafalda começou como uma figura publicitária para electrodomésticos, tornou-se depois uma figura incontornável do humor de intervenção, e por fim acabou, após ser descontinuada pelo seu autor, como figura de merchandising em figuras de plástico, cartões, postais, posters, e outros produtos. Começou por ser uma figura publicitária do capitalismo, tornou-se feroz crítica da sociedade de consumo ocidental, e no fim acabou paradoxalmente por se tornar (um bocado como outra grande figura argentina, Che Guevara) um ícone dessa mesma sociedade de consumo.


Atrás, Esquerda-Direita: Miguelito, Susanita, Mafalda, Felipe, Manolito
Frente, Esquerda-Direita: Liberdade, Gui

Mas este post é sobre Quino. Quino abandonou Mafalda, porque se queria tornar cartoonista a tempo inteiro. Mas qual Viktor Frankenstein, viu que a obra era maior que ele. E Quino nunca teve tanto êxito como cartoonista. O que é pena. Os seus cartoons são deliciosos. São pequenas amostras cheias do humor inteligente que sempre o caracterizou, mas desta feita já sem um cunho interventivo – excepto ao satirizar a classe média e os seus hábitos pequeno-burgueses – antes são jóias gráficas (com muito, pouco, ou nenhum texto) do nonsense ou de um pensar existencialista quase Kafkiano.

Salud, Quino

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Neo-nazismo musical


Meus amigos, é com o coração cheio de ânsia e pesar que vos venho informar que a hora é grave! Os neo-nazis são agora não uma ameaça velada, mas um perigo bem real que pode demolir toda a estrutura da sociedade portuguesa!

É verdade! Quando pensávamos que a praga do nacional-cancionetismo que arrasou a cena musical portuguesa desde os anos 40 até finais dos anos 80 tinha já sido exterminada, e os saudosistas que surgiam com novas demonstrações da pirosice nacional mais repugnante eram rebaixados à ignóbil classificação de Música Pimba, não encontrando outros lugares para difundir as suas letras meladas e o seu ritmo sonoro quase de Rancho Popular do que em Feiras Populares, Festas de Verão de Emigrantes, ou Rádios Regionais com nomes tipo Rádio Clube de Salvaterra de Vila Viçosa de Mougadecho de Baixo, eis que uma nova vaga de neo-nacionais-cancionetistas está a abalar o panorama musical português!

Marco Paulo, Alexandra, António Calvário, António Sala, Dina, Dora, Duo Ouro Negro, Simone de Oliveira, Broa de Mel, Madalena Iglésias, Paco Bandeira, Neno, Paulo Alexandre, Roberto Leal, Toni de Matos, Lara Li, José Cid…quem consegue proferir esses nomes sem ser invadido por calafrios na espinha? Quem pode se lembrar desses nomes sem evocar logo imagens de Domingos de tarde nos anos 80 com programas do Júlio Isidro?

Os anos 90, vieram porém reduzir o reino de terror do Nacional-Cançonetismo. A finais dos anos 90, a música pop/rock portuguesa estava bem demarcada: Rock/Pop comercial com alguma qualidade, música pimba e Delfins.
Emanuel, criador do conceito Pimba, obrigou todos os da sua laia, que nos queriam vir enjoar com musiquinhas alegres com letras fáceis e românticas, ou então “trocadalhos do carilho” desprovidos de qualquer inteligência ou bom gosto, a ter que aceitar a estigmatização. Pimba, o rótulo escarlate!

Mas agora, meus amigos…Eles estão de volta! Decididos a dominar o mercado musical português e o Olympia de Paris, ao mesmo tempo que refutam ser conectados como Pimbas e rejeitam qualquer associação com o vergonhoso passado criminoso dos facínoras que os precederam.

Na sua maior parte são jovens, simpáticos, limpinhos, urbanos, cantam por vezes em “estrangeiro”, são bem comportados e nada rebeldes, defensores do sexo com amor, nada de drogas e pop ligeirinho, tocam guitarra eléctrica por vezes, mas não muito alto, não vá alguém se chatear, e com as suas vozes límpidas vem entoar trovas de louvor ao amor, à felicidade e a outros valores que tais.
Enchem salas de espectáculos e estádios, aparecem nas fotos de jornais e revistas cor-de-rosas com a gaja de turno, vendem CDs, ganham Globos de Ouro da SIC...e o que é mais admirável, é que o seu público-alvo não é já só o proletariado suburbano de Lisboa, Porto e do interior, mas jovens e menos jovens, com algum estatuto sócio-cultural, que acham mesmo que eles são fixes e cool!
Tudo muito certinho e bonitinho. E foleiro. E piroso! No fundo vem pegar nas mesmas letras fáceis de sempre e acelerar um bocado mais o ritmo. Mas não se enganem!
Os velhos demónios estão de volta, mas agora com jeans, bandas e guitarras elécticas!
Eles querem tomar a vossa alma e subjugar o vosso gosto musical. Eles tramam o Holocausto da Mente!

Não vou citar nomes, por minha segurança pessoal. Usarei pseudónimos.
JPP, André S., Mickel e respectivo papá, Pólo N., F.tips, Ez sp. e outros que tais, j´acuse!!! Acuso-vos como os pulhas defensores do neo-nacional-cancionetismo que são. “Está tudo bem, de vez em quando todos somos uns bons filhos da mãe”, “Porque eu morro se acordo e não estás na minha vida”, “Quando eu te falei de amor tu sorriste para mim, o mundo ficou bem melhor”, “Olha para mim, se estiveres a fim”…mas que é isso? Foi feitiço!?, o que é que vos deu para usarem a língua de Camões, Gil Vicente, Eça, Pessoa para grunhirem um chorrilho de banalidades e vácuo intelectual?

Nós sabemos quem vocês são! E digo-os: não passarão!

Camaradas, o tempo urge! Juntem-se a mim na Utopia de ser possível boa música pop com boas letras no nosso idioma! Podes dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único a olhar o céu!

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Quem bate palmas é tripeiro

"Adoro a Ribeira, é as Docas PORTISTAS".

Olavo Bilac (o cabo-verdiano, não o brasileiro)

E as Docas, são a Ribeira Benfiquista/Sportinguista?

25 de quê?

"Super Dragões impedidos de entrar em Lisboa".

O 25 de Abril quando nasce afinal não é para todos.

Hã?

Hoje no 24 Horas

"Burlão faz-se passar por Cláudio Ramos".

Esta notícia dá-me calafrios. Quem no seu perfeito juízo se faria passar por Cláudio Ramos? Que pretenderia ganhar com isso? Ser insultado, vaiado, ameaçado ou agredido na rua?

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Diga 33

Comemora-se hoje 33 anos desde a altura em que os portugueses* ganharam a liberdade, inclusive a de se monstrarem estúpidos, ingratos e indignos de merecer essa mesma liberdade.


*oferta válida só em Portugal Continental e Região Autónoma dos Açores

terça-feira, 24 de abril de 2007

Oh no, it´s the return of the 24 Hours Party People

A grande manchete da capa da edição de hoje do jornal "24 Horas" versava sobre o desaparecimento algo inesperado de um homem, que, quer se goste quer não se goste, foi uma figura inconturnável do final do século XX, e um dos que desenharam a Nova Ordem Mundial. Falo evidentemente do pai de Luis Filipe Vieira (Pensaram que era o Boris Ieltsin, não era?).

Ainda um e-mail hilariante de um homem que na data da "revoluçãozeca" gosta de estar fora do país, e foi de visita a Angola, país que "era muito melhor se ainda estivesse sob Administração Portuguesa". Onde param as minas terrestres angolanas quando precisamos delas???

PS - Agora mais a sério, como devem entender não vou muito à bola com o LFV, mas se querem saber, achei o entediante pasquim de um extremo mau-gosto, MESMO para os níveis habituais de populismo a que o dito pasquim nos tem habituado. De facto, pôr o empate com o FCP e a eliminação da UEFA numa mesma lista com a hospitalização de Eusébio e a morte do pai, é de uma extrema falta de sensibilidade para com a dor alheia. Digo eu, que até adoro humor negro.

PPS - Se o FCP tivesse ganho, por outro lado...

Mas qual Eva Longoria qual carapuça!

You take my Bre(e)ath away!


















segunda-feira, 23 de abril de 2007

Quanto muito, como acaba em "y" seria "corninho", não???!

"Cocaine gets me horny"

traduzido por

"A cocaína dá-me CORNO"
in Dreams Die First (Os sonhos morrem primeiro) - Harold Robbins


No comments...

Bad Boys(???)

"O Ally Sheedy fica bem quando é espancado".


in The Informers (Os Confidentes) - Bret Easton Ellis

Bom, não desgosto d´O Ally Sheedy, mas gosto mais d´O Molly Ringwald

Novas Oportunidades

"Se eu não tivesse acabado os meus estudos, provavelmente a esta hora não passava de um reles Primeiro-Ministro de Portugal".



"Se eu não tivesse acabado os meus estudos (e não tivese lambido o cuzinho ao Bush, ao seu cãozinho inglês e ao espanhol) provavelmente a esta hora não seria Presidente da Comissão Europeia".



"Se eu não tivesse acabado os meus estudos, a esta hora seria uma puta e não uma escort girl/escritora de sucesso".

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Heptágonos

Porque é que o Word se recusa a reconhecer palavras de vernáculo em português? Não é por nada, mas não acham ridículo reconhecer palavras que não usamos todos os dias ou mesmo todas as décadas como "Heptágono", mas acusar como erros palavras normais do quotidiano como "merda", "puta" ou "foder"? Na minha qualidade de apaixonado pela língua galaico-portuguesa, considero tal arrogância dos lacaios portugueses do Sr. Gates um verdadeiro crime de traição e lesa-língua. Estamos a falar das mesmas palavras que são o alicerce de grande parte da Farsa Vicentina, inolvidáveis textos como "De que morreste? Samicas de caganeira! De quê? De caga merdeira, má rabugem que te dê" ou ainda "Espera a mim, ó fideputa ruim".

Nada isso está presente no Word. Mas o heptágono, esse não poderia faltar!

Totalmente off-topic, Wikipedia em Esperanto! Porquê??

The decay of lying


Em "O declínio da mentira", Oscar declara a superioridade da Arte fece à Vida E à Natureza, mas faz também o elogio fúnebre do Romantismo. O século XX pode começar...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Sad but true

Se um Coreano do Norte com ADM incomoda muita gente...


...um Coreano do Sul com armas de fogo incomoda 32 vezes mais.



Seja consciente! Hipocrisie com moderação





A falsidade humana é uma questão relativa. Muitas das pessoas que dizem mal de nós pelas costas demonstram-nos isso, tácita mas claramente pela frente, afectando sorrisos e proferindo frases tão desprovidos de sentimento e significado que chegam a ser burlescas e quase caricaturais. A hipocrisia gela-me o sangue. Tenho a certeza que muita gente que anda por aí, escarrando-nos na cara com os seus modos e sorrisos gentis se fossem esborrachados contra uma parede iriam deixar uma grande mancha de um sangue-baba-pus esverdeado como se de uma barata se tratassem.


Alguns de nós sabem disfarçar melhor ou pior a nossa hipocrisia; mas a verdade é que seria hipócrita da nossa parte recusar a nossa quota-parte de hipocrisia, a necessidade quase primordial que temos por vezes de ocultar ou condicionar os nossos sentimentos, sacrificando-nos no altar das convenções sociais ou na manutenção de uma paz podre.


A hipocrisia não é um estado de espírito, na maior parte dos casos. É um sub-produto do sentimento que emana da característica verdadeira da mentira. A mentira não existe no momento. A hipocrisia sim. A mentira realmente não existe, se pensarmos bem. É um conceito aplicável a médio/longo prazo. Para os interlocutores a mentira é a verdade no próprio momento em que é proferida - ou ocultada - consciente ou inconscientemente por um deles ou por ambos. Vivemos a mentira como um facto que cremos - e por vezes queremos - como certo. Mas o que é certo não o é para sempre; pois o Homem não é para sempre, os seus sentimentos e relações e gostos e desgostos não são eternos.
Dessa característica humana finita nasce por vezes uma nova ordem que nos leva a adoptar em público comportamentos contrários aos nossos sentimentos, de forma a não criar situações constrangedoras. Por mais que isso nos custe. E custa sempre, sentir uma vez mais a estrutura sócio-cultural do Nós a esmagar o Eu. Mas tememos menos irritar a nossa auto-estima que não sermos aceites.


A hipocrisia torna-se portanto um instrumento social e um mal humano necessário; mas todos os excessos são contrários à natureza.

domingo, 15 de abril de 2007

Porque é que a Anne Rice não preferiu Lobisomens

BREAKING NEWS:






Acaba de ser descoberto um rascunho nunca antes publicado de um pequeno romance da ex-escritora-e-símbolo-gótico-recentemente-re-reconvertida-ao-Catolicismo Anne Rice, que ajuda a explicar porque é que ela preferiu sempre os Vampiros aos Lobisomens.



Aqui fica:



Entrevista com o Lobisomem



"O relógio indicava as 7 da tarde quando Daniel Malloy chegou ao andar onde vivia o autor do misterioso telefonema que o seu jornal tinha recebido. Tocou à campainha.

- Quem é? - perguntam de dentro.

- Daniel Malloy. Tenho uma entrevista com o sr. Louis du Lac.

- Sou o próprio. Faça o favor de entrar.

Em todos os seus anos de carreira num jornal tablóide sensacionalista, Malloy tinha visto muita coisa, mas nada o tinha preparado para um face-a-face com um sósia do Sr. Angelina Jolie, de rabo de cabalo e vestido com uma apaneleirada camisa de folhos tipo século XVII.

Passaram para uma sala mergulhada na escuridão, os últimos raios de sol eram escoados pelas frinchas da veneziana semi-aberta. Louis disse a Daniel para se sentar, e oferece-lhe uma bebida.

- O sr. Louis tem uma história que diz ser do interesse dos nossos leitores.

Louis manteve-se de costas voltadas para ele, em silêncio, vendo o dia a morrer, durante um quarto de hora. No fim disse:

- Eu sou um lobisomem do século XVII, fui infectado por um Lobisomem chamado Lestat.

Malloy riu: "Espera que eu acredite nisso?"

Louis sorriu de forma matreira quando viu a lua cheia subir por fim sobre San Francisco.

- Acredito que sim.

Subitamente, Louis começou a gemer, o corpo a tremer descontrolado...os músculos pareciam crescer, e desenvolver-se de maneira animalesca sob a camisa de folhos que num ápice se despedaçou, mostrando um torso completamente peludo. Malloy susteve a respração ao ver os olhos de Louis a tornarem-se vermelhos, as suas feições a apresentarem um aspecto canino. As mãos finas e brancas eram agora terríveis patas de garras afiadas como navalhas. Pondo a cabeça para trás Louis lança um terrível uivo:

- Aúuuuuuuuuuuuuuu.

Aterrado, o repórter tenta dizer:

- Magnífico...É mesmo...

Daniel Malloy não chegou a dizer mais nada. Com um movimento rápido da pata direita, Louis decapitou Daniel, a cabeça do repórter rolou para debaixo da mesa. Após uma fracção de segundo que pareceu uma eternidade, o corpo caiu.

O prazer da caça foi pouco, mas Louis não se importou desta vez. Estava esfaimado. Colocou uma pata sobre o tronco caído da presa, e farejou o coto ensanguetado que fora o pescoço de Daniel. Louis lambe o sangue quente e solta um longo uivo. Poucos minutos depois estava a deliciar-se com as entranhas de Daniel.



FIM

Junto ao texto encontrou-se ainda uma carta do agente de Anne Rice que dizia:

"Anne, que merda vem a ser esta? 200 páginas no mínimo, mulher!!! Lobisomens não estão com nada, são animais irracionais básicos. Tenta antes vampiros. São racionais, caçadores perfeitos cheios de carisma, eternamente jovens e belos, tem um forte conteúdo sexual, quer seja homo-erótico ou hetero-erótico, são metáforas perfeitas sobre a Vida, o Amor e a Morte. Além que, ao contrário dos Lobisomens, são reais e Reais. Lembra-te do que dizia sempre Luis XIV, O Rei Sol de França:

Lestat c´est moi! "

sábado, 14 de abril de 2007

Estupidez filosófica

F. Nietzsche can, I. Kant!
(No wonder his detractors kept saying Immanuel is a Kant)

Oncologia eleitoral

O processo eleitoral em Timor-Lorosae é tão genéticamente podre, que estão a pensar re-baptizar o país de Tumor-Leste.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

John Bender

Na continuação do meu post sobre o Breakfast Club, eis "John Bender" em toda a sua plenitude. 50% Cómico, 50% Dramático, 100% cool!

Mondo Cane

Quando se é preso por se ter cão e preso por se não ter, talvez a solução passe por se possuir um chiuaua. Não deixa de ser cão, sem no entanto o chegar a ser.

Pedro in an ´80s movie

No seu último trabalho, Pedro Abrunhosa pergunta "cantando" (ou melhor, quase falando).:"Quem me leva os meus fantasmas?"

É caso para responder com uma outra questão. Do tipo:

Pedro, who you gonna call?



quinta-feira, 5 de abril de 2007

Febre de Sexta-Feira Santa à Noite: Uma haute-comedie Pascal em 3 Actos

Febre de Sexta-Feira Santa à Noite
Cenário: O Sub-mundo da Morte
Tempo: 33 DC
Personagens:
Jesus Cristo
Morte
Funcionário de Boas-Vindas
Secretária

Acto I

(Um escritório luxuoso de atendimento personalizado. O escritório está ricamente decorado, mas com bom-gosto. É funcional e de estética futurista. Das paredes cor-de-salmão pendem molduras com pinturas modernas. A meio do gabinete uma mesa de carvalho, com uma cesta de frutas, um PC, papéis rigorosamente ordenados e flyers com fotos e descrição de uma grande urbanização e área de lazer. Uma cadeira ergonómica forrada de brilhante couro negro de cada lado da mesa. Escuta-se o ligeiro zumbido de uma máquina de ar-condicionado, e a versão instrumental de “I will survive” de Gloria Gaynor.)
O funcionário está vestido com um elegante fato de executivo cinzento, é alto, anda na casa dos 30 e muitos anos, tem gestos e tiques efeminados).

Funcionário de Boas-Vindas: Bom Dia, Sr. Cristo. Em nome do Reino dos Mortos, deixe-me dar-lhe as boas-vindas e agradecer-lhe por ter escolhido os nossos serviços (Sorri, enquanto lhe entrega uma cesta de frutas). Por favor, aceite esta pequena oferta. Leve estas brochuras também, para verificar tudo o que temos para lhe oferecer, de forma a tornar a sua experiência post-mortem o mais prazenteira possível. Se me quiser acompanhar, poderemos começar a nossa visita guiada. Deixe-me só dizer-lhe que o senhor atingiu uma classificação notável nas nossas TMV (Tabelas de Mérito em Vida), ganhando como tal acesso imediato à zona VIP das nossas instalações. Aqui todos os nossos hóspedes são instalados na sua própria suite, com kitchnet, mini-bar, room service, tv com ecrã plasma, leitor de DVD, sistema de Home Movie…A suite é excelente, luxuosa, ampla e com uma vista (literalmente) celestial. Temos uma área de restauração onde se confeccionam todos os seus pratos preferidos sob a orienteção dos melhores chefs já falecidos. Uma grande área de lazer para as suas necessidades comerciais e de convívio, com toda a sorte de estabelecimentos, bares, discos, etc..
Ainda um enorme complexo gimnó-desportivo, com piscinas, jacuzzis, saunas, banhos turcos, ginásios…
E ainda um centro de apoio psicológico e espiritual, já que sabemos que muitas vezes a Morte induz-nos numa depressão. Uma vez que aqui funcionamos com uma concepção espaço-termporal diferente da sua, estamos abertos (literalmente) uma Eternidade, para o servir.
Tudo feito a pensar especialmente em si, de maneira a que a sua espera pelo Dia do Juízo Final se torne uma experiência única!
Jesus Cristo – Pá, eu estou para aqui a ouvir-te palrar, e em verdade, em verdade te digo…tu és chato que tolhe! Para ti posso ser um mero carpinteiro; a verdade é que não sei de tudo como o meu pai, mas não preciso de ter um MBA em Marketing ou Gestão Empresarial para ver que não me estás a vender o peixe da forma correcta. Moderniza-te, mano! Tanta paneleirice de tanta formalidade e lisonja barata…e tanto palavreado inútil! A cena agora é seres conciso, man! Com-ci-so. E usa uma linguagem mais colorida, muda o método, usa figuras de estilo, man! Metáforas, pá! Parábolas, de rico teor didáctico, breves e com força narrativa.
FB – Per…perdão, senhor! O nosso Departamento de Reclamações está sempre aberto, senhor! Daqui à eternidade.
JC – Pois…estou aqui a perder o meu aramaico contigo. Diz mas é como se dá a vaga daqui para fora?
FB – Perdão, senhor?
JC – Estás perdoado. E se Eu digo que estás perdoado…acredita, mano, estás mesmo! Dar a vaga, dar de frosques, dar o pira…Sair, pázinho! Quero voltar…upa…lá pra cima.
FB – Não vai ser possível, senhor…Repare que aqui tem todas as comodidades…
JC – Whatever. Onde está a porta? Ou vou ter que ir falar com as autoridades competentes?
FB – Hã?
JC – Quero falar com o Gerente desta merda, pá…
FB – (a tremer): Quer o livro de reclam…
JC – Não quero livro nenhum, pá! Que cepo! Tás-me a tirar do sério, gajo!
FB – Isso é altamente irregular…
JC – (já irritado) Dasse, que lá vem este gajo com estes rodriguinhos das autoridades e tal...Olha pá, isto é assim…telefona pró Big Boss desta merda e diz que quero falar com ele. Mais nada!
FB – Mas…
JC – (encolerizado) Meu amigo, o Pedro fez de conta que não me conhecia, o Judas traiu-me, o Pilatos cagou de alto, os Fariseus bem me foderam, os romanos fizeram-me num 8…e eu não me chateei! Tudo Zen comigo, pá! Mas agora…tu estás-me a chatear! Tecnocrata dum corno! Diz-me onde é a Direcção desta bosta e sai-me da frente, antes que a merda comece a cair para o teu lado. Eu tenho amigos, conexões e conhecimentos em sítios que nem imaginas. Olha, eu sou como o Dr. Bruce Banner...acredita, tu NÃO me queres ver chateado!
FB – (suspirando): Muito bem senhor, vou telefonar para a secretária da Direcção e dizer a que é que o senhor vai. Sobe neste elevador até ao 15º andar, 3ª porta à direita.
JC – Fixe! Tu és cool, bro…
FB – (hesitante): Senhor!
JC – Tu o disseste, man! Fala!
FB – O senhor desculpe…Afinal a Maria Madal…
JC – Nem vás por aí! Se pensas que vou estar para aqui a falar da minha vida privada com um cromo todo pipi cujo único livro que conseguiu acabar foi aquela palhaçada do Código não sei de quê, pensas mal mano.
FB – (a suar): O senhor desculpe!
JC – Ámen, Bro!

Acto II

(Um pequeno escritório extremamente minimalista, asséptico e branco. Uma secretária com 20 e poucos anos, extremamente atraente e loura, vestida de branco sentada a uma mesa branca só com um telefone. Branco).

JC – Yo, tudo!?
Secretária – Boa tarde, Sr.…
JC – Jesus! Mas antes que venhas com essa graçola idiota, não, não sou mexicano nem porto-riquenho! (sorri). Sou judeu.
S – Diria que é sueco…
J – Isso é porque me vês como os pintores da Renascença. A raça nórdica como ideal da beleza estética, e por conseguinte da bondade encarnada. Uma volta à Estética Grega se quiseres. Sou o Sr. Cristo. Mas podes me chamar de Nazaré J (sorri).
S – Entendo Sr. Cristo. Peço desculpa, mas a Dr.ª Morte está numa reunião e é capaz de demorar (literalmente) uma eternidade.
JC – Uou! Pára tudo. É uma mulher?
S – (friamente): Algum problema?
JC – Na boa! Curto tótil gajas, miga! Pensei que fosse um gajo, é só isso.
S – A Morte é uma entidade assexuada. Porém como estamos a falar numa língua latina, é uma figura feminina. Nas línguas germânicas é que é representada por uma entidade masculina.
JC – Assexuada!? Não é boa cena! Mas olha, tudo Zen na mesma. MAS vou ter mesmo que interromper a reunião. É uma cena importante, mana!
S – Acredito, senhor. Mas não o posso ajudar. Quer voltar daqui a 5 mil anos?
JC – É assim, hei-de voltar, sim, mas ainda não sei quando. Tudo o que sei é que de momento tenho a máxima urgência de falar com a D. Morte.
S – A DOUTORA Morte está indisponível, senhor Cristo. Além que é quase fim-de-semana. O melhor será o senhor voltar na Segunda-Feira.
JC – (a ficar irritado): Olha-me outra! Minha amiga, como eu já disse ao panasca do teu amigo lá das Boas-Vindas, isto é urgente, urgentíssimo, urgentérrimo! Qual 2ª-Feira, qual carapuça! Trata-se de uma questão de (LITERALMENTE) Vida ou Morte! 2ª Feira já tenho que estar lá a andar por cima outra vez. Se não, o Plano não funciona.
S – (hesitante) Plano?
JC – Ihhh, que fui dizer!? Isso é muita areia para a tua camioneta, mana! Tem a ver com a salvação do Homem e por aí. Sê sincera, eu sei que ela está lá dentro. Sê boazinha e diz que o Filho de Ela-sabe-quem quer falar com ela.
S – A Drª Morte não deseja ser incomodada, senhor! Lamento.
JC – (Piscando-lhe o olho!) Faz-me só um favor, linda. Leva-lhe a minha ficha e se ela quiser falar comigo, agradecia.
S – Certamente senhor. (ausenta-se durante 10 minutos).
S – A Dr.ª vai recebe-lo agora!
JC – Bigado, linda! Fico-te a dever uma! A sério fico mesmo a dever-te uma!
S – (friamente): Não será necessário, Senhor. Não preciso de tocar nas suas "chagas" para acreditar. Agradecia mesmo que deixasse de me chagar....
JC - (para com os seus botões): Não sei se ela está morta da cabeça aos pés. Mas da barriga para baixo está de certeza…

Acto III

(Um grande escritório executivo, com uma grande janela com vista sobre uma elegante e atarefada paisagem cosmopolita de uma qualquer metrópole. Assim a modos Manhattan pré 11-S. Escritório luxuoso, a transpirar sucesso, com várias estantes de, uma enorme mesa de reuniões e outros adereços. Cenário atraente, funcional e com um subtil retoque feminino. A cor predominante não é um previsível negro, mas um bordeaux algo descaído. A Morte é uma atraente mulher perto dos 40, com um corpo tonificado diariamente no Ginásio. De longos cabelos negros (ok, podem ser negros), vestida de forma sóbria, mas ainda assim atractiva).


Morte – Ora finalmente conheço o menino! Têm-me falado muito de si. Sente-se, sente-se.
JC – Yo, OK.
M – O menino tem amigos importantes. Normalmente não tenho tempo para receber…não tenhamos medo das palavras…cunhas!
JC - …
M – Sim! Estive a ver o CV do menino (lê o CV). Yeshua Ben Youseff, AKA Jesus Cristo, Jesus, Cristo, Nosso Senhor, JC, Filho de Deus, Filho do Homem, Salvatori Mundi…33 anos – portanto teve uma Eu recente e precoce – carpinteiro, pregador, profeta, Messias, agitador social – inimigos influentes – uma Eu macaca na Cruz. Ou seja, o menino é de boas famílias mas é um rebeldezinho, verdade?
JC – Yo, mana, isso não é cool.
M – Pois, tinha idade para ter juízo. Cortar esse cabelo…não fumar tanta ganza, arranjar um trabalhinho honesto, casar-se lá com aquela rapariga decente...
JC – (irritado): Deixe lá a Lenita sossegada…
M – Sim, muito Rebel without a cause…mas quando a coisa está feia…toca a chamar o papá e pedir a ajuda do papá e dos contactos do papá…
JC – Isso não é cool, linda.
M – Não fume tanta substância ilegal, menino. Isso faz-lhe mal aos neurónios. Está a repetir-se. Ora, se bem me lembro, não é a primeira vez que o Sr. me vem apoquentar.
JC – Não entendo.
M – “Lázaro. Levanta-te e anda Lázaro!” Ring a bell!?
JC – Não me lembro. Só me lembro que o Lázaro fazia uma bela sandwich de kebab de carneiro em pão pita, e eu estava com os munchies e…
M – Evite fumar…já lhe disse.
JC – Pois…mas eu tenho que voltar à Terra.
M – Diga ao seu paizinho, pelo amor Dele, que tenha paciência. Mas não pode ser.
JC – Minha amiga, qual é o problema?
M – É errado abrir excepções. As pessoas podiam falar.
JC – (sorri): Não seja por isso! O meu pai é dono desta merda toda! Que importa o que pensem?
M – Por isso mesmo. Há que dar o exemplo! E afinal, que quer ir fazer lá acima?
JC – Linda, isto é importante. Sem isto a História não funciona. E a história tem que funcionar. É verdade que muita gente pode vir a matar e a morrer em meu nome…
M – (friamente) Pois, mais trabalho para mim!
JC – É verdade que muita mal se pode vir a fazer, mas durante milénios também muito bem se vai fazer. E nesse período de tempo muita gente, gente Zen, vai encontrar na História auxílio e conforto em tempos difíceis, quer ela tenha acontecido ou não. Porque muitas vezes uma Esperança, por fugidia que seja, pode ser o que nos ajude a passar um mau dia ou uma má noite…E além disso…
M – (compenetrada): Estou a ouvir.
JC – Quero fazer isso por mim também, sabe? É que o meu dia de anos já está a perder o significado. Todo aquele comercialismo…como posso competir contra o Pai Natal e a árvore? Agora na Páscoa…acho que ainda aguento contra uns coelhos com uns ovos de chocolate, e uns pintinhos (pisca-lhe o olho).
M – O menino fala que nem um doutor!
JC – Chama-me Nazare J!
M – Ok…Nazare J. Convenceste-me. E o que é melhor, sem recurso a parábolas!
JC – I rule!
M – Talvez possa fazer o favor. Vou tratar da papelada. Pode é demorar uns 2 dias. Domingo ao fim da tarde já te dou os papeis de alta.
JC – Obrigado! (hesita): Fazes alguma coisa este fim-de-semana?
M – (admirada): Não estás comprometido?
JC – Tou, e eu curto bué a Lenita. Mas lembra-te, até Domingo para todos os efeitos estou morto.
M – Acho que isto pode ser o princípio de uma grande amizade.

(Pano).

quarta-feira, 4 de abril de 2007

terça-feira, 3 de abril de 2007

Em altura de Páscoa...

François de La Rochefoucauld

Quem esteja familiarizado com a obra filosófica de Friederich Nietzsche, sabe que um dos autores que ele cita recorrentemente é François de La Rochefoucauld, pensador e moralista francês do século XVII.
Ao lermos o livro de La Rochefoucauld, “Máximas”, entendemos porquê.
“Máximas” é uma colectânea de aforismos breves e pensamentos concisos (género muito comum, aliás, no século XVII. Veja-se “Pensamentos” de Blaise Pascal e “A Arte da Prudência” de Baltazar Grácian). As “Máximas” versam sobre o Eu, e a forma como o Espírito, os Humores e sobretudo o Amor-Próprio do Eu influenciam a nossa atitude face à Vida (as relações que estabelecemos, o Amor, a Amizade) e face à Morte.
Apesar de La Rochefoucauld não ter face à moral ocidental uma visão tão fria e negativista (eu uso estes adjectivos com reservas…porque inserir Nietzsche na Escola Niilista do século XIX é para mim um erro comum e algo grave) como Nietzsche, a verdade é que o seu livro e os seus pensamentos de certa forma podem ter influenciado as obras tardias do filósofo alemão, mormente “Genealogia da Moral”, “Para além do Bem e do Mal” e “O Anticristo”.
O pensador francês afirma que toda a relação humana é produto de uma relação de poderes. Que o Amor, a Amizade e a própria Bondade têm um forte teor egocêntrico, que o bem que fazemos aos outros é antes de mais uma expressão do nosso Orgulho, que inflama dessa maneira o nosso Amor-Próprio. Que alguns vícios são melhores que algumas virtudes. E mesmo que o grande Mal forja grandes homens. Ou seja, na sua opinião, actos aparentemente altruístas e desinteressados têm na sua origem uma tendência egoísta, no sentido em que colocamos os outros sob o nosso poder, quer seja através do Amor, da Amizade, da Gratidão.
Eis de forma sucinta a crítica da moral nietzschiana. Eis a Vontade de Poder.
A obra de François de La Rochefoucauld também se debruça sobre a forma como duas forças, não raro antagónicas, Mérito e Fortuna determinam o nosso posicionamento social; sobre o medo vs o desprezo pela Morte; sobre a crítica social às famosas coquetes parisienses.
La Rochefoucauld não tem o reconhecimento de que gozam grande parte dos pensadores e filósofos francófonos dos séculos XVII e XVIII. Não tem as preocupações sociais nem as pretensões sociológicas de um Rousseau, não tem a desarmante e refinada ironia de um Voltaire, não tem a associação de uma alma piedosa a uma mente incrivelmente lógico-matemática de um Pascal. As “Máximas” não têm a relevância contemporânea de, por exemplo, as “Cartas Persas”, a meu ver a obra maior de Montesquieu (neste tempo de “Guerras Civilizacionais” faz bem ler “Cartas Persas”, onde, usando de forte imaginação e de uma boa capacidade narrativa, Montesquieu descreve o Ocidente visto pelos olhos de uns nobres persas a viver em Paris. Uma leitura mais agradável e fácil que a daquela que é considerada a obra-prima de Montesquieu, “O Espírito das Leis” – sem desprezar o seu interesse para a História em geral e para a do Direito em particular, “O Espírito…” são maçudas, largas centenas de páginas que se resumem a esta ideia geral final: “A História explica-se pelo Direito, que se justifica pela História”).
Porém, a obra de La Rochefoucauld, e se excluirmos a misoginia própria da época, não deixa de expressar pontos de vista válidos, interessantes, e que mesmo sendo o reflexo do seu tempo, do seu país, e do seu meio não são totalmente descabidos fora desse contexto espaço-temporal.

domingo, 1 de abril de 2007

The Breakfast Club

Angústia Existeencial

Quem me conhece, ou está pelo menos familiarizado com o ensemble do meu opus bloguisticus sabe que eu tenho um apaixonado fascínio nostálgico pela cultura pop dos anos 80 (a oeste nada de novo; quem não tem!?)
O meu ardor 80ista é um mar de vagas de periodicidade e intensidade logicamente imprevisíveis, cobrindo de tempos a tempos esta ou aquela área da praia dos meus interesses.
Ultimamente, tenho vindo a arranjar (por vezes de formas não totalmente de acordo com as leis internacionais de defesa de copyright e do direito de propriedade intelectual) alguns filmes incontornáveis no campo da comédia teen dos anos 80.
Ok, não será Allen nem Lynch. Nem terão, na sua maioria, citações 80istas tão míticas como “Wax on, wax off” ou “Think, McFly, think!” ou “ET phone home!” MAS são filmes imprescindíveis para qualquer “Child of the 80s” que se preze (nasci em 1975, todo o meu banho cultural é 80s!). Falo de filmes como “Fast Times at Ridgemont High” (Sean Penn num papel de surfista adolescente pedrado 99% do tempo! Genial!), “Porky´s”, “Valley Girl - A Rapariga de Los Angeles”, “Fright Night - A Noite do Espanto”, “Weird Science - Que Loucura de Mulher”, “Pretty in Pink - A Garota do Vestido Cor-de-Rosa”, “16 Candles - 16 Primaveras”, “Revenge of the Nerds - Revolta dos Marados”, “Risky Business - Negócio Arriscado”, “The Breakfast Club - O Clube”, “Bill & Ted´s Excellent Adventure - A Fantástic Aventura de Bill & Ted”, e ainda alguns do final da década de 70, tais como "Meatballs-Almôndegas" e o lendário "Animal House", com o ainda mais lendário John Belushi, ou do início dos 90s como “Wayne´s World”.
Quando fui ver NIN em Lisboa, um amigo meu que só me dá bons conselhos sugeriu que eu comprasse “The Breakfast Club” na Fnac. Eu já tinha “e-mule-ado” o filme, mas uma vez que estava a €4,99 na loja, não hesitei. E em boa hora o fiz, porque “The Breakfast Club” juntou-se à vasta lista dos meus filmes favoritos, na mesma altura em que eu me juntei à vasta lista das pessoas que consideram este filme a obra-prima de John Hughes (escreveu e realizou), uma referência pop cultural dos anos 80 e O teen movie por excelência.
Compararmos este filme às outras grandes referências de Hughes, tais como “16 Candles” (escrito e realizado por JH), “Pretty in Pink” (escrito por JH), ou “Ferris Bueller´s Day Off – O Rei dos Gazeteiros” (escrito e realizado por JH, e o meu 2º filme favorito dele) - ainda não vi o “Weird Science” – é um bocado injusto.
Quando vemos “16 Candles” ou “Pretty in Pink”, e depois vemos “The Breakfast Club”, não podemos deixar de pensar que este último tem algo diferente. Os dois primeiros são comédias ligeiras e românticas, carregadas da essência dos anos 80 e lidando com os problemas típicos de adolescentes dos anos 80 (e de todas as outras décadas) tais como escola, relacionamentos, família e o ser aceite. “The Breakfast Club” lida com a mesma temática, mas de forma muito mais dramática e marcante.
A principal diferença nota-se na sensação fortemente claustrofóbica deste filme (que bem poderia ser encenado num palco) totalmente passado no edifício de um Liceu onde 5 alunos estão em detenção entre as 7 da manhã e as 4 da tarde de um sábado por pequenas infracções do código escolar. As 5 personagens não poderiam ser uma representação mais estereotipada da juventude teen americana de filmes (não é à toa que a escola secundária do "Not Another Teen Movie - Oh não! Outro filme de adolescentes” se chama John Hughes High”.): um “desportista”, um “crânio”, um “criminoso”, uma “maluca” e uma “princesa”. Todos com interesses e amigos diferentes, quando não incompatíveis. No início nem se falam, mas a sensação de isolamento, o confronto contra o “inimigo” comum, o director da escola (adultos e autoridade: o inimigo de sempre dos adolescentes, tanto aqui como na América, tanto no cinema como na realidade), leva-os a criarem laços de solidariedade, de confidência, e para o fim da tarde de forte amizade e mesmo amor que poderão (ou não) sobreviver na manhã de 2ª-Feira. O estereótipo que eles representam foi-lhes incutido pelo director e pela sociedade escolar, com tanta força que eles próprios acreditam nisso, e agem conforme é esperado que o façam. O filme gira à volta de uma carta que eles são supostos escrever, onde dizem ao director quem pensam ser: “Dear Mr. Vernon, we accept the fact that we had to sacrifice a whole Saturday in detention for whatever it was we did wrong. What we did was wrong, but we think you're crazy to make us write an essay telling you who we think we are. You see us as you want to see us... In the simplest terms and the most convenient definitions.”
Mas com o passar do tempo, as suas barreiras defensivas vão-se abaixando, e cada um vai expondo a sua alma, o seu coração e os seus problemas aos outros, numa psicologicamente violenta sessão de grupo forçada. Vemos então que nem tudo é a preto-e-branco como os filmes nos fazem crer. A idílica vida familiar da “princesa”, do “crânio” e do “desportista” mais não são do que fachadas; e eles sofrem na pele as frustrações dos pais, os problemas destes, e o obsessivo espírito de competitividade a que eles os sujeitam. Quanto à “maluca” e ao “criminoso” a vida familiar deles resume-se a indiferença no caso dela, violência no caso dele. Eles são todos fruto do meio onde vivem…e por isso sentem-se unidos. Até sempre ou até a manhã de 2ª. Não importa. Pois como a carta diz no final: “But what we found out is that each one of us is a brain…and an athlete...and a basket case...a princess...and a criminal...Does that answer your question?... Sincerely yours, the Breakfast Club.”
O filme conta com 5 dos principais 8 membros do Brat Pack (um grupo de jovens actores, adolescentes ou com cerca de 20 e poucos anos na década de 80 que entraram juntos em muitos filmes do género. Os outros 3 principais membros do Brat Pack são Rob Lowe, Andrew McCarthy e Demi Moore..a Wikipedia é nossa amiga!):
Emílio Estevez: no papel de Andrew Clark, o atleta lutador profissional que se sente obrigado a ganhar e a fazer tudo para agradar ao pai.

Anthony Michael Hall: representando Brian Johnson o aluno brilhante obrigado a um estudo constante pela família, de tal forma que chega a ponderar o suicídio por causa duma nota negativa.

Ally Shededy: no papel de Allison Reynolds, a solitária, cleptomaníaca e mentirosa compulsiva que deseja ardentemente ser notada.

Molly Ringwald: claro que Molly, a diva de John Hughes, actriz principal de alguns dos seus filmes, Lolita pura mas não ingénua de cabelos de fogo curtos não poderia faltar. Desta feita, fugindo um pouco ao seu papel de menina rebelde, interpreta Claire Standish, menina rica a quem o pai dá tudo, numa competição impiedosa contra a mãe dela, pelo amor da filha.

Judd Nelson: no melhor papel do filme (e da sua carreira). John Bender, o criminoso cool. O marginal sem papas na língua, que tanto está a assediar Claire (eles acabam juntos no final) ou a provocar Andrew, como a oferecer ganza aos amigos ou a sujeitar-se a uma sanção maior para os salvar. Bender, o gajo que disse pela primeira vez em filme ao director a expressão que toda a gente pensava que era de Bart Simpson: “Eat my shorts”. Matt Groening adora John Bender, aliás. Há um episódio dos Simpsons em que um Bart Simpson ainda na 1ª Classe recria essa cena com o Director Skinner. Já para não falar que o deliciosamente amoral robot de Futurama, Bender, é uma homenagem a este filme.
Ainda Paul Gleason no papel do director, papel que ele recria em Not Another Teen Movie, onde satiriza a cena de maior tensão com Bender. Em Not Another Teen Movie, Molly Ringwald, quase quarentona mais ainda uma bela MILF ruiva, também satiriza os seus próprios filmes: “How did you know he stole that line from Pretty in Pink?” Molly: “Trust me, I know!”

Antes de te afirmares um apaixonado da década de 1980, certifica-te que viste este.
Se só vires um filme de adolescentes na tua vida, certifica-te que é este.