quinta-feira, 29 de março de 2007

Les aventures de Sergin...Sergin a Lisbonne

Como devem saber, este sábado fui a Lisboa ao Estádio Alvalade XXI ver o Ricardo Quaresma mais 10 gajos darem alta cabazada a uns toscos leiteiros flamengos. Desta vez achei por bem partilhar alguns momentos convosco. As fotos é que não são aquela coisa. Possuo uma boa câmara, a culpa é dos operadores.

Para começar o almoço, na famosa Cervejaria Trindade. Tudo muito bonito, mosteiro convertido em templo de adoração de Belzebu (demônio da Gula) e Baco, e tal. Pois! O problema foi o serviço super demorado, 30 minutos à espera de um bife grande e tenro com meia dúzia de batatas fritas e um molho apetitoso mas morno (eu ando numa dieta rigorosa que me permite envolver em UMA refeição abundante/semana...já perdi quase 20 kilos desde o final de Novembro, por isso funciona..:D). Tudo isso por...um testículo de massa! Que saudades de uma francesinha no Piolho, no Tremendão, no Requinte ou no Espaço 777.

Isto é um mural da Cervejaria Trindade...



...e isto sou eu a tentar apanhar uma Foster-moca para me esquecer do tombo por cabeça!


Eu abomino touradas! Mas não sou cego à beleza urbana. Pode um local de morte e tortura ter uma bela estética arquitectônica E ser funcional em termos de satisfação das necessidades comerciais e de entretenimento de nativos e forasteiros? A resposta é sim, e falo do Campo Pequeno, sítio onde fui quase arrastado pelos cabelos, não para ver nenhuma orgia colectiva de sangue e tripas, mas para passar algum tempo no complexo comercial.

Campo Pequeno by night


A área comercial era eficaz, mas eu perdi a cabeça foi com o bar e snack-bar do multiplex de cinema do Campo Prequeno.


Como se pode ver, não faltava bonecada, mais ou menos representativa de heróis intemporais de cinema...

...a separação por sexo do WC foi feita recorrendo ao poster do Mr. e Mrs. Smith. Infelizmente, e contrariamente ao primeiro impulso, o WC dos meninos NÃO é o da direita..



Mas a tara, tara mesmo era as mesas do café principal do multiplex...

Isto sou eu à espera de mesa no Jack Rabbit Slims do Pulp Fiction...



...e isto é eu a ser expulso por um segurança com uma certa parecença com o Boris Karloff...



Ok, o jogo propriamente dito. Foi fixe. Mostramos que somos difíceis de parar em casa, e metemos quatro batatas fritas na maionese dos belgas. O que não é propriamente muito difícil...



Esta é a pensão onde demos quatro aos flamengos...

...e este é o aftemath de um dos golos...

Foram as minhas memórias de um dia bem passado. Ontem, o senhor Scolari decidiu ser simpático com o FCP e dar 80 minutos de repouso ao cigano! E ficamos todos contentes com uns empatezinhos fora...Enfim...

terça-feira, 27 de março de 2007

80´s Endings!

Uma curta-metragem de finais de filmes dos 80s. Todos os clichés oitentistas estão cá!:D

segunda-feira, 26 de março de 2007

O Triunfo dos Porcos


General Humberto Delgado: assassinado a tiro pelos cães-de-guarda do "melhor português de todos os tempos"*, na fronteira luso-espanhola. 13 de Fevereiro de 1965.
*Este post vai com os votos MUITO SINCEROS que todos aqueles que tenham votado na vitória do "senhor professor" estejam face-a-face com o seu ídolo...o mais rapidamente possível!

sexta-feira, 23 de março de 2007

Leonor

Sou a Leonor Pinhão, conhecida adepta do Glorioso! Se eu tivesse outra preocupação ou interesse na vida para além do futebol, talvez chegasse à conclusão que é bem triste viver num país em que alguém é conhecido só porque é adepto do clube A ou B. Mas isto não interessa nada, porque este país não interessa nada. A única coisa que interessa neste pais é o Glorioso. Aliás, como eu disse na altura em que pagámos a nossa dívida ao Fisco com acções que não valiam nem o papel em que vinham impressas, “o que este país deve ao Glorioso chega para 1.000 anos de impostos!”* Ficou bonito. Claro que não cheguei a explicar exactamente o que é que este país deve ao Glorioso, mas fica sempre bem a nós, psicopatas obsessivos e megalómanos, falar em 1.000 anos!

É verdade, sou uma fundamentalista encarnada! E como suponho que saibam (ao contrário da besta que escreve este blog, porque ele só lê esse reles pasquim de propaganda nortenha-regional chamado “O Jogo”) escrevo semanalmente em “A Bola”. Uma vez por semana tenho a minha própria página para masturbações intelectuais, onde digo que o Glorioso é o maior clube do mundo, o mais rico, o único em Portugal com 757.000.000 de sócios pagantes com as quotas em dia (eu deixei de dizer que éramos 6 milhões quando o Miguel Sousa Tavares escreveu: “Isso resolvia-se com Zyklon-B”!), o que tem mais títulos, mais taças, mais competições europeias, mais competições africanas, do Dubai, o que tem os jogadores e adeptos mais bonitos, espertos e bem dotados do mundo; E ao mesmo tempo destilo ódio sobre as merdinhas regionais pseudo-rivais do Glorioso. Pode-se dizer que eu sou assim a modos como uma Miguel Sousa Tavares, mas encarnada e com mais testosterona.

Eu não sou propriamente a Angelina Jolie, mas também (e talvez com a excepção do Nuno Gomes), quem é que se pode comparar a ela!? Ela é tão boa, tão boa, tão boa, e tem um coração tão enorme, e gosta tanto de minorias, que só pode ser das nossas!
Aliás eu divido as pessoas do mundo em duas classes: a dos que são do nosso clube, que inclui nomes como Camões, Shakespeare, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá ou Lincoln e a dos que não são, como por exemplo Al Capone, Saddam, Bin Laden, Hitler, Estaline ou ainda George W. Bush, membro fundador dos Super Dragões, recentemente laureado com o Dragão de Ouro.

Posso não ser muito bela, mas sou feliz com o meu João, outro conhecido adepto encarnado. Parece que ele também é realizador, mas quem se interessa por cinema português?
Temos muitos interesses e coisas em comum. Ambos usamos Old Spice, gostamos de ficar horas e horas a fio a falar do Glorioso; por exemplo ainda ontem estivemos à noite a falar na cama três horas seguidas sobre aquele golo que o Eusébio marcou ao Sporting da Covilhã no Campeonato de 1967/1968. Falando em cama, eu e o meu João temos uma vida sexual muito boa! Basta dizer que ele casou comigo! Acreditem, aquele homem fode tudo o que se mova! Vou ser marota, e fazer como a Carolina Salgado – muito minha amiga por sinal, desde há coisa de 6 meses - e revelar aspectos privados da nossa vida de casal. Eu na brincadeira chamo-o de “meu Eusébiozinho branco de Lamego” e ele chama-me “minha águiazinha peluda”, e no momento do clímax, por vezes gritamos o nome de obscuros defesas centrais escandinavos que tenham jogado uma temporada na década de 80. Dá-nos para isso!

Eu não tenho nada contra o Porto ou contra o Sporting. Simplesmente acho que deviam ser extintos. Todos os clubes deveriam pagar por jogar contra nós. Este mundo não merece o Glorioso. Aliás estou convicta que o Glorioso deveria ter a sua própria Liga de Futebol. Sei lá, poderia jogar a nossa equipa de seniores, a de juniores, a de infantis, a de Velhas Glórias, a da Secção de Ciclismo, a da Secção de Basquete, a da Secção de Andebol, a da Secção de Hóquei... No final o Glorioso seria sempre campeão, ganhasse quem ganhasse. Que seria o que aconteceria na vida real, não fosse pelo Pinto da Costa, o maior criminoso que o mundo já conheceu.

Aliás, o nosso único rival é o Sporting, e por especial favor! “A intromissão do Porto é um fait divers!”**. Um “fait divers” com mais de 20 anos, uma carrada de campeonatos nacionais ganha com a ajuda dos árbitros, uma taça UEFA e 2 Champions League ganhas por sorte. Mas mesmo assim, um “fait divers”.

O Porto para mim é insignificante. Um clube regional, não!, de bairro, não!, de prédio! O Glorioso é tão grande e eles tão insignificantes. Aliás eles são tão pequenos e tão pouco importantes que eu não consigo parar de falar deles. Meu Deus, como eles são corruptos. E putanheiros! E ladrões. Mas eu não tenho nada contra o FCP, só não consigo deixar de falar neles nas minhas crónicas. Que é para eles verem como eu os ignoro! O que vale é o Apito Dourado, que vai proporcionar ao Pinto da Costa um julgamento imparcial e uma punição justa…mais ou menos igual à do Saddam.

PS - A comitiva da Bélgica chegou e houve um elemento que agrediu jornalistas portugueses. Quem foi agredido? Jornalistas de “A Bola” e “Record”! Quem foi o agressor? Stéphane Demol, que jogou uma temporada no FCP, em 1990! Estão a ver onde quero chegar? Não é que o FCP me diga nada, mas isso vai-me dar pano para mangas para as crónicas das minhas próximas duas Bolas.


*, ** Declarações verdadeiras da Leonor Pinhão

terça-feira, 20 de março de 2007

As minas do Rei Roman

16 lugares na lista dos tipos mais ricos do planeta. Foi essa a queda de Roman Abramovich - um de entre as vastas dezenas de milhões de russos cujo fim do Comunismo elevou à qualidade de mega-hiper-ri-bilionários - devido ao seu oneroso divórcio. O dinheiro não traz a felicidade, mas a infelicidade (conjugal) pode trazer muito dinheiro. Que o diga a ex-srª Abramovich, dona do par de cornos mais caro do mundo, e agora de um vastos biliões (desculpem, eu não gosto da expressão "milhar de milhões") de euros, ou dólares ou rublos ou o que quer que seja.
Francamente, estes ricaços russos são uns perdulários! Um acidente de carro, e/ou uma bala + subornos a todos os juízes da Rússia deveriam sair-te mais em conta, não achas, Rom?

Entrementes, e a título de nota de roda-pé, quase uma centena de mineiros que trabalhavam numa mina siberiana pertencente a Roman também não tiveram uns dias muito agradáveis. Baicamente porque as condições de trabalho não eram as melhores e, por mais alguma coisa que eu agora não me lembro...ah, já sei, morreram soterrados. Mas que importa a sua morte e a dor das famílias com a queda de 16 lugares na lista das pessoas mais ricas do mundo?

Olha Rom, se me estiveres a ouvir, se no final da época quiseres mandar embora aquele treinadorzeco que tens no Chelsea, quando vires que ele não consegue ganhar a Champions League, tenho a escolha certa para ti. Chama-se Jesualdo Ferreira, e é um treinador jovem, de elevado potencial e de provas dadas. Também posso-te indicar uma lista de futebolistas de elevada classe e craveira mundial. Chamam-se Alan, Adriano, Bruno Alves, Ricardo Costa, Fucile, Rentería...e o melhor? É que podes ficar com eles de graça. Mas simplesmente leva-os daqui! O mais rapidamente possível!! Por favor!!!!!!!!!!!!! E se não servirem para o Chelsea...podes sempre dar-lhes emprego numa das tuas famosas minas siberianas!

Bélgica


No próximo sábado joga-se no Alvalade XXI um jogo que pode ser fundamental para a qualificação portuguesa para o Euro 2008. Falo do Portugal-Bélgica, e prestem bem atenção às bancadas porque EU vou estar lá, ao vivo e a cores a assistir in loco a este derby entre aquelas que são as duas nações mais pedófilas da Europa.
Entretanto, Gilberto Madaíl vai apresentar queixa à UEFA, porque alguns jogadores da Bélgica disseram que contra Portugal há que jogar durinho. Esse bebedolas do Madaíl não tem vergonha? Parece mesmo daqueles putos irritantes que vão ao gabinete do sr. Director: "Sr. Director, aqueles meninos maus disseram que me vão bater." Queixinhas, pá! Há que aguentar as investidas dos valões/flamengos e dar-lhes no osso, pá!
Falando a sério. Isto são "mind games", e o Berto está a cair que nem um patinho!
De todo o modo, penso que é triste um jogador de um país que, embora futebolísticamente inferior a nós, é muito mais rico e desenvolvido vir dizer: "Eu em dois minutos afasto Cristiano Ronaldo do jogo." Está visto que desenvolvimento não é sinal de civismo nem de evolução humana. Sinceramente, já viram se o Petit dissesse: "Em 2 minutos eu afasto o melhor jogador da Bélgica (sejá lá quem ele for, olha um van Qualquercoisa) do jogo." Havia de ser linda a reacção dos jornais belgas. "Terceiro-Mundo", "norte-africanos" e outros mimos do género sobre Portugal. Era certinho!

PP


Depois da baixaria que se passou nos últimos dias no Partido Popular, qual é o novo significado de PP?
Partido Popularucho?
Potente Porrada?
Particularmente Podre?
Pontapés e Patadas?
Portentosa Peixeirada?
Próprio de Putedo?

segunda-feira, 19 de março de 2007

19 de Março

O meu pai é a prova vida de que, regra geral, o original é incomparávelmente superior à sequela.

quarta-feira, 14 de março de 2007

O Diário de Bento XVI


13 de Março de 2007

Querido Diário:

Deo Gratia! Que bom poder expressar todas as minhas idéias retrógradas de Bávaro conservadorão sem nenhum tipo de problema! Hoje disse umas verdades ao mundo. Nada dos padres se poderem casar! Se a gente começar a ceder, daqui a nada tínhamos uniões de facto entre vigários e freiras, não querem lá ver!?
Também nada dessas modernices de eutanásias, abortos, uniões de facto entre homossexuais, e não estou muito certo quanto a iPods. É um caso a repensar.
Quanto às missas, quanto mais gregoriano melhor. Qualquer dia tínhamos o Pai Nosso cantado em Hip Hop, ou cântigos em Black Metal. Ah, e contenção na saudação durante a Eucaristia. Há que saber dominar a Luxúria. Ou então, quando os padres fossem dizer "Saudai-vos na paz de Cristo" aquilo ia parecer uma orgia romana! Basta de sem-vergonhices!

15 de Abril de 2007

Querido Diário:

Hoje disse que, bem vistas as coisas, o iPod é um instumento de Satã e que o bom católico deve usá-lo com moderação. Nem iPod nem sai de cima! Reafirmei também a minha convicção de que os defensores da eutanásia, abortos, uniões de facto e outras perversões sexuais são uns belos de uns filhos da puta que devem ser punidos! Não que isso me interesse, mas a reacção mundial às minhas palavras não foi muito positiva. Não comprendo! O João Paulo II dizia basicamente o mesmo e toda a gente gostava dele, e da sua cara de Pai Natal barbeado e bonacheirão. Rai´s fodam o polaco pá! Esses undermench eslavos sempre souberam enganar a gente. É do convívio que têm com judeus e ciganos!

17 de Maio de 2007

Querido Diário:

Hoje encontrei o Cardeal Barzini, e disse-lhe que na minha próxima aparição pública, ia afirmar a superioridade natural do Ocidente sobre o Islão, e concluir dizendo que o Maomé levava por trás e que era pedófilo. Ele afirmou que quanto ao resto nada a opor, mas sugeriu que eu não fizesse qualquer tipo de referência à pedofilia. Acicatar um bando de tarados num qualquer país longínquo era uma coisa, mas dar de mão beijada material aos humoristas ocidentais era algo que poderia ser prejudicial à Santa Sé.

28 de Junho de 2007

Querido Diário:

Hoje disse que a Inquisição Espanhola teve os seus pontos positivos. E quando esperavam que eu concluísse o meu pensamento não disse mais nada. Não que este humilde servo de Deus tenha qualquer tipo de ambiçaõ pessoal senão servir a Igreja o melhor que pode, mas há que reconhecer que o Cristianismo é fixe. A gente pode fazer afirmações disparatadas e não explicar porquê, esperando que os crentes reconheçam a força vinculativó-dogmática da Homilia Papal.

30 de Junho de 2007

Querido Diário:

Hoje cresceu em mim um dilema metafísico. Até que ponto poderei eu exprimir livremente as minhas opiniões hiperconservadoras, sem fazer com que a Igreja Católica se afunde no ridículo? Também vi que ando a fumar demais e que engordei 2 kilitos. Enfim, como bom católico, tenho que aceitar de bom grado todo esse sofrimento físico e psicológico que Nosso Senhor acha por bem me oferecer, e nem pensar mais nisso. E tudo com um sorriso nos lábios! Ando stressado pra caralho. Precisava de dar uma foda valente. Ah, é verdade, não posso! Além que a minha religião não permite.

2 de Julho de 2007

Querido Diário:

Hoje passei uma Bula requerendo que no render da guarda, a Guarda Suiça passe a usar o passo-de-ganso.

15 de Julho de 2007

Querido Diário:

Hoje o Cardeal Barzini veio dizer que a minha Evangelização tinha que ir para além da Baviera e da Áustria. Ele sugeriu que eu fosse visitar um país do 3º Mundo. Eu disse "ya, é na boa, ´bora lá para um desses lugarejos nos arredores da Alemanha, qualquer coisa tipo Portugal, Roménia ou Grécia". E vai ele e diz que não, tem que ser 3º Mundo mesmo mesmo do mais terciário possível, daqueles sítios cheios de pretos ou chinocas onde a Madonna ou a Angelina vão adoptar criancinhas. E eu "olha que se foda, tem que ser, tem muita força".

17 de Julho de 2007

Querido Diário:

Estou no olho do cú de Judas...aham, quer dizer, estou num dos locais mais belos da Criação, a cujo o povo Deus achou por bem fazer sofrer um cadinho. O palácio do presidente, ou rei ou chefe ou lá que é desta merda, é porreiro. Tem uns jardins, umas fontes, uns ar condicionados, uns ecrãs plasmas para ver a RTL, a DSF e a RAI Uno. Fora disso...JESUS FUCKING CHRIST!!
Mesmo assim, viro-me lá para um bando de nativos e digo que a SIDA é a maneira de Jesus nos dizer que sexo casual e fora do casamento é mau. Mas se tiver que ser, então pelo menos NÃO usem preservativos. Eu sei que não faz sentido, mas eles também não falam italiano. Depois ia dizer: "Deus abençoe..." mas que vergonha! Esqueci-me do nome do país, vai daí digo: "Deus abençoe a Ásia". Sussuram-me ao ouvido que não estamos na Ásia, mas eu encolhi os ombros. "Caga", disse, "vamos mas é voltar a Roma e tomar um bom banho!"

8 de Setembro de 2007

Querido Diário:

Hoje foi um dia estranho. O Cardeal Barzini disse que estava preocupado! De acordo com uma sondagem internacional, eu estou oficialmente em 4º lugar na lista das personagens mais odiosas de sempre da Igreja Católica atrás de Alexandre VI (Rodrigo Borgia), Tomás de Torquemada e Pio XII, o Papa que não cortou relações com a Alemanha de Hitler. A partir daqui, não me lembro de nada. Barzini jura a pés juntos que eu comecei a dizer com a voz plena de emoção "Ah, o Fuhrer", que terei ficado com os olhos marejados de lágrimas e que terei inclusive me babado qual cão raivoso. Começo a desconfiar da fidelidade de Barzini. Esses italianos gordurosos e manipuladores, com as suas falinhas mansas abichanadas e os seus cabelos oleosos! Acho que vou passar uma bula mandando-o pregar para outra freguesia. Mais prosaicamente, vou mandá-lo para a bula que o pariu!

10 de Novembro de 2007

Querido Diário:

Hoje um insolente repórter ateu/protestante de um país ateu/protestante veio-me perguntar se não achava uma contradição a Igreja Católica pregar que é pró-vida, e ser contra o estudo de células estaminais, clonagem e hábitos salutares como o uso de contraceptivos. Eu disse que isso estava claramente explicado em Mateus 25:6 e bazei antes que tivessem tempo de verificar. Que saudades dos tempos em que um pensamento racional era resolvido com uma fogueira!

25 de Dezembro de 2007

Querido Diário:

Estou orgulhoso do meu discurso de Natal. Basicamente disse o de sempre, mas começando com: "Neste Natal...", lá pelo meio ia dizendo "Jesu" várias vezes e bem alto que era para que não adormecessem, e acabando com "Bom Natal" em 1.500 línguas vivas, mortas, mortas-vivas, semi-comatosas e fictícias. Este ano disse em Coreano, pronúncia da Coreia do Norte, Élfico e Klingon! É muito domínio!

sábado, 10 de março de 2007

Festival Internacional de curtas-postagens

- Há dias no TV: "A possibilidade de novos vôos políticos não está fora dos planos de Santana Lopes". O problema com os vôos do Santana é que costumam acabar como os do 11 de Setembro.

- "Perfeito, perfeito só mesmo uma Super Bock sem álcool". Isso é tão pateta como dizer "Perfeito, perfeito, só a Scarlet Johanson sem dentes".

- "TVI: uma televisão feita por si". Spot simples e simplista que bajula os telespectadores, imbuído do mesmo espírito populista do qual a TVI é a máxima expressão catódica OU uma acusação muito grave que nos deveria fazer envergonhar e reflectir sobre os interesses (des)culturais da nossa identidade colectiva?

- A RTP não quer que o Gato Fedorento satirize o Telejornal da Estação Pública. Gozar com a morte de Sá Carneiro, tudo bem, com a do Saddam, nada contra, MAS com a RTP ninguem sé mete fachavour? Depois da censura ao Humor de Perdição, há anos, agora isto! Algumas instituições da nossa praça devem ter uma nostalgia da caneta azul...

-O 24 Horas publicou uma lista das 10 maiores portuguesAs de todos os tempos. Dessa lista constavam 3 espanholas, uma inglesa, uma alemã! Das 5 realmente portuguesas, uma delas, a Padeira de Aljusbarrota é provávelmente uma lenda. E porque é que a Florbela Espanca não figura nessa lista?

-Os anti-portistas adoram os Super Dragões. Com atitudes como a de desrespeitar o minuto de silêncio em honra de Bento, dão aos anti-portistas a desculpa perfeita para nos meterem a todos no mesmo saco, e poderem detestar o FCP de cosnciência tranquila.

-Falando de FCP, a derrota em Londres foi um melão para todos os portugueses. Foi um melão para os portistas porque perdermos, um melão para os anti-portistas porque pensaram que íamos ser esmagados, um melão para o Ricardo Carvalho porque ele é dos nossos, e quanto ao treinador do Chel$ea, bom, esse quer ganhe, perca ou empate está sempre com cara de quem tem um grande melão enfiado em qualquer sítio.

- Com as suas músicas melosas e as suas letras fáceis e optimistas, estarão os Pólo Norte aptos a tomar o lugar dos Delfins no anedotário nacional como banda pop mais azeiteirola?

-O 24 Horas achou por bem dedicar meia página a contar a história de um português que se casou com uma brasileira num autobus da TAP no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Eles haviam-se conhecido numa viagem Lisboa-São Paulo há um tempo, pelo que decidiram oficializar a sua relação dessa forma. O rídiculo da notícia chega ao detalhe de dizer que o português estava a ler determinado livro sobre auto-estima, e ainda referir o quanto esse livro custa. Porquê só meia página? Porque não dedicar um exclusivo de 2,3 páginas sobre o assunto. Já agora, a Lua-de-Mel terá sido no WC do avião?

- O mesmo jornal revela que determinada fulana actriz numa novela portuguesa faz um papel muito rebelde, porque "Fuma charros". Uau! Uma jovem rebelde! E fuma charros e tudo!! Não posso! Que é feito da nossa juventude? Querem ver que qualquer dia ainda fazem sexo antes do casamento?

- Michael Jackson está de visita ao Japão. Curioso. Pensei que no Japão os menores fossem mais protegidos do que nas Filipinas, Tailândia ou Indonésia. Também pensei que essa coisa já não tivesse fãs. Mas pelos vistos houve quem pagasse €3.000,00 para falar pessoalmente com ele!
Muito sinceramente, se ELE me pagasse essa quantia, eu iria ponderar se estava interessado em gastar 3, 4 minutos a falar com ele (e uma vez que tenho mais de 10 anos, estaria seguro).

- Falando em aberrações americanas em viagem pelo Brasil, George W. o nosso Pai, na sua grandiosa bondade e generosidade, dignou-se a deleitar os brasileiros com a sua excelsa presença. Foi tamanha a vontade de eles lhe demonstrarem pessoalmente o seu amor, que no meio da confusão, largas dezenas de fãs ficaram feridos.

- Num Relatório Internacional patricionado pela Administração Bush, Portugal foi acusado de violar os pfff direitoa hahhhahahh hu-human ahhha os direitos humanos!!! LOL.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Dia da Mulher


“8 de Março é Dia da Mulher. O Homem tem os restantes 364 dias.”

Nunca entendi a piada desta e de outras graçolas de cariz semelhante. Aliás não consigo apreender o conceito de Guerra de Sexos.

Sou franco: Eu sou sexista! Considero a Mulher um ser bastante superior ao Homem. Vá lá, rapazes, custa-nos tanto admitir? A gente semos uns broncos, pá! Dizemos ah e tal, que não, que a coisa já não é bem assim, que somos abertos, machos século XXI, que assumimos os sentimentos, que estamos em contacto directo com o nosso lado feminino e outras mariquices tais…mas no fundo, no fundo do mais metrossexual de cada um de nós existe ainda um neanderthalesco macho que fala alto, cospe para o chão, fede a cerveja, peida-se, mija contra a parede, coça os colhões à frente de quem quer que seja e “oh catarina já te vieste?, azar, eu já, até logo, e esse jantar não sai, vê se calas esse puto, agora silêncio que eu vou ver a bola com os meus camaradas e bola baixa senão amanhã na fábrica vais ter que dizer que foste contra a porta…outra vez”
O paradoxal é que esse homúnculo recolector/caçador, limitado a pouco mais que um animal de instintos, coberto por séculos de preconceitos machistas e homofóbicos, que não se importa com a figura que faz, mas que se força a provar a sua masculinidade a todo instante, tem muitas vezes um coração de criança. E como criança, por vezes egoísta, por vezes rude, por vezes imaturo.

A Mulher é outra coisa. O feminino é a idade adulta da humanidade. A Mulher é mais forte. Talvez não fisicamente, mas no seu íntimo. É mais resistente. Aguenta melhor a Dor. A Dor é a sua antiga companheira. A Mulher é estigmatizada a arcar nos ombros pela noite dos tempos a culpa do Mundo. Desse Mundo que Ela pare, desse Mundo que a fode, desse Mundo que ela chora nas campas de companheiros e filhos. Que Homem aguentaria, NÃO! que Homem compreenderia tal sofrimento!? Eu o imagino e o tento expressar aqui; mas será sempre uma imagem pálida. Não o posso entender.

A Mulher é mais sensível. Mas os seus sentimentos, mesmo quando exacerbados, seguem sempre uma lógica racional. Há método no Caos. O Homem demora mais tempo a demonstrar os seus sentimentos, e quando o faz, por não estar habituado a esses sentimentos, não raras vezes é cego por eles. A Mulher explode de Emoções e Paixões. O Homem é controlado pelas suas Emoções e Paixões.

Por resistir melhor à Dor, por conseguir controlar um pouco menos mal a sua Emoção, a Mulher acaba por ser mais cautelosa e mais racional que o Homem. Mais inteligente, no fundo. Razão pela qual muitas vezes é mais fácil uma Mulher controlar completa e totalmente um Homem que o inverso. Se for matreira e inescrupolosa o suficiente pode usar e abusar de um Homem, de uma Amiga, de uma Situação. Por vezes as mulheres são mais manipuladoras, menos francas e mesmo menos bondosas (i. e., mais adultas) que os homens? Quem as pode culpar?

Nos primórdios da Humanidade, a Mulher era o sexo dominante, nas primeiras sociedades matriarcais (a Mãe, a Mulher, a Rainha), e nas primeiras religiões (a Deusa-Mãe, a Deusa-Natureza, a Deusa-Terra). A Antiguidade Clássica trouxe o conceito que o Deus dos Deuses tinha que ser uma figura-masculina. O banho judaico-cristão do Pecado Original cometido por Eva, a segunda mulher (se não entendes, procura Lillith no Google) levou a uma misoginização histórico-cultural do Ocidente, que atinge níveis paranóicos no Islão. Como toda e qualquer minoria, a mulher teve que aprender a ser mais forte que o homem para conseguir menos. Evoluiu, enquanto o Homem quase que estancou. No fundo a Mulher reagiu Darwinisticamente a uma conjuntura que lhe era adversa. Ganhou calo, tornou-se sofredora silenciosa. Mesmo que por vezes se tenha tornado mais fria e distante. E hoje em dia caminha para retomar o seu lugar de direito no trono da Humanidade.

Dedico isto a todas as mulheres. Às mulheres que amamos. Ás que nos são indiferentes. Às que nos dão tesão. Às que nos amam. Às que nos ignoram. Às que nos fazem sofrer. Às nossas amigas. Às nossas colegas. Às nossas namoradas. Às que nos são fiéis. Às que nos encornam. Às que trabalham dia-a-dia. Às solitárias. Às que vivem só para os filhos, sem ajuda de ninguém. Às vítimas de repressão e agressão. Às que caminham pelas ruas, de noite, espíritos mortos, olhos vazios, veias furadas, que se vendem aos instintos animalescos do Homem por necessidade extrema. Às que nos fazem chorar e que nos fazem rir. Às que gemem por baixo de nós, sincera ou simuladamente. Às que perpetuam o nosso sangue. Às que nos trazem a este mundo. Às que nos seguram a nossa mão velha e gretada, nos sussurram palavras doces de conforto e cujas lágrimas são uma chuva agridoce de amor/dor sobre a nossa cara, quando fechamos os olhos pela última vez.

terça-feira, 6 de março de 2007

Vai Chamar Pai a outro!


Penso que já expressei aqui o meu descontentamento pelo facto de incluírem o Salazar no Top 10 dos Portugueses.

Vou ser agora quiçá um niquinho mais polémico e desta vez vou criticar (de certa forma) uma figura muito mais consensual. Falo de D. Afonso Henriques, o dito “Pai da Nacionalidade”. Não me interpretem mal. Não penso que seja errado incluírem o 1º rei na lista dos 10 maiores portugueses. Historicamente é que não concordo com esse conceito de “Pai da Nacionalidade”. Concedo que D. Afonso Henriques, foi de facto o nobre (mais tarde entronizado) que conseguiu a afirmação internacional (isto é, oficializada pela Santa Sé) do Condado Portucalense como estado independente.

Porém, D. Afonso Henriques não criou “o sentimento nacional português”.

Como é sabido, o Condado Portucalense (entre Douro e Minho) pertenceu desde sempre (ver mapa abaixo) à Gallaecia. Os antigos habitantes do que é hoje o norte de Portugal nunca foram lusitanos, e a maior parte da população era celta pura (não celtibera). A Gallaecia (hoje Galiza e Norte de Portugal) era uma nação com uma língua própria e pertencia ao Reino Cristão de Leão, onde evidentemente a língua mais corrente não era o galaico-português, mas o Leonês (o Mirandês e o dialecto asturiano, com o qual tem notórias afinidades, são as reminiscências da antiga língua leonesa). Acontece que o rei de Leão sempre temeu o forte espírito independentista dos galegos, pelo que quando pediu ajuda aos dois irmãos cruzados francos (embora se pense que Henri de Borgonha e o seu irmão poderiam ter ascendência magiar) na sua cruzada contra os mouros, dividiu a Gallaecia em duas, dando um condado (e uma filha) a cada irmão.Essa divisão permanece até hoje.




O desejo de D. Afonso Henriques, após a morte do seu pai, era obviamente conseguir a liberdade face a Leão, conquistar terras aos mouros E voltar a unir a Galiza no que seria um grande reino que ocuparia toda a faixa atlântica ocidental da Hispânia. Conseguiu 2 em 3, já não foi mau de todo. D. Afonso não queria pois criar um sentimento nacional novo, separatista da província acima do Minho, mas sim assimilar a terra dividida por Leão num novo e maior estado independente.

Com o passar dos séculos, entre Portugal e a Galiza acabou por haver um distanciamento cultural (embora muitos galegos se sintam irmãos dos portugueses; mas só dos do norte, como costumam dizer), em parte devido ao abastardamento da cultura e língua original galaico-portuguesa nessa província espanhola causada pelo Castelhano, em parte porque com o passar dos séculos acabamos por conseguir criar um espírito sólido de identidade nacional com terras que a princípio não nos diriam nada quer em termos de cultura, quer de raça. A expansão colonial portuguesa ajudou a preservar e a difundir pelo mundo a língua e a cultura e o espírito da antiga Gallaecia.

Hoje, com todos os nossos problemas, somos um país que é belo de norte a sul, com paisagens e gentes heterogéneas; um país que vai do verde ao árido, do louro ao negro.

Acima de tudo, um país multiracial que se sente igual, que fala a mesma língua e UNIDO, do Minho ao Algarve. Algo que a Espanha nunca será, por mais bancos que compre cá, por mais Alonsos e Penélopes que tenha.

Afonso Henriques o fundador do Estado Independente, o rei corajoso que lançou raízes para o Portugal dos séculos que lhe sucederam, SIM! Afonso Henriques, o Pai da Nacionalidade, NÃO!


sexta-feira, 2 de março de 2007

Post que não é totalmente meu

Eu gosto muito do Michael Moore. O tipo pode ser um idealista e um utópico, mas é um idealista e um utópico com piada. É também a imagem viva do paradoxo americano, de um país em que, apesar de todos os seus problemas internos, e um patriotismo fervoroso, tu TENS uma liberdade de expressão maior do que em qualquer democracia europeia. A respeito de Clinton, Michael Moore disse uma vez que foi um dos maiores presidentes REPUBLICANOS que os EUA já tiveram.

Baseado nas palavras dele, e inspirado num post que li hoje num dos melhores blogs que por aí andam, diria que José Sócrates é claramente um dos melhores primeiros-ministros SOCIAIS-DEMOCRATAS que este país já teve (um dia sou gajo para escrever um post sobre a tendência bipartidária que se nota em quase todos os países Ocidentais. Ou talvez não).

Sócrates quer uma espécie de Cyber-Revolução Industrió-Cultural, independentemente dos custos em sofrimento humano. A política deste governo (acerca do qual não tenho vergonha de dizer que votei - um dia sou gajo para escrever um post sobre a tendência bipartidária que se nota em quase todos os países Ocidentais. Ou talvez não) é totalmente economicista; para eles o factor humano é somente mais uma variável da equação; nada a ver com os ideias de Liberté, Egalité, Fraternité que estiveram na origem de todo pensamento político de Esquerda.

Esta opção de fecho de urgências e maternidades é quase uma declaração tácita de aposta no litoral urbano, e consideração do Interior como um caso perdido. Chamem-me lunático, mas até que ponto é que isto não será uma espécie de "punição" a algumas das zonas mais conservadoras do país é algo que eu não consigo deixar de pensar.

O "romance" com Aníbal Cavaco Silva (embora este ultimamente pareça já ter mais coração que Sócrates...a Presidência pode realçar o teu lado mais humano) não podia ser mais perfeito. São camaradas de partido.

Alienação


Júlia morrera havia já 5 meses, e Roberto ainda estava na Fase de Negação.
Não que ele alguma vez fosse sair dessa fase. Tentar convencer-se disso era um exercício de futilidade; tão vão, tão absurdo supor que ele algum dia aceitaria a sua morte como supor que ele se convenceria que as estrelas deixariam de alumiar a noite ou que o sol não nasceria no horizonte longínquo ao dia seguinte.

Os últimos três meses de vida de Júlia foram dolorosos e agonizantes; tal foi o seu martírio que todos deram graças quando a sentença se cumpriu mais cedo do que o planeado; algures a meio desses três meses, o espírito de Roberto quebrou-se… deixou de a ir visitar, deixou de se interessar sequer por ela, porque aquela não era a Júlia; aquela velha moribunda que nunca iria chegar aos 30 anos, aquela aberração-Júlia que gritava de noite por um fim Fim que a libertasse das farpas que pareciam querer rasgar o seu corpo desde o interior, não era, nunca foi nem nunca seria a sua Júlia, a Júlia que ele conheceu, embriagada de vida, ávida de amor, vivendo cada dia, alegre ou triste que fosse como o último dia. Metafísica!

Quem era aquele esqueleto que definhava dia a dia? Que morra depressa aquela aberração-Júlia! Que morra depressa e para o Diabo com ela!

Como uma criança que se esconde debaixo dos cobertores no seu quarto escurecido para evitar ver o espectro que o espia desde a soleira da porta, assim fez Roberto face à eminente morte de Júlia. O seu espectro chamava-se Realidade.

Nos últimos dias, ela já nem conseguia falar, mas disse quem a viu que os seus olhos só ansiavam ver Roberto uma vez mais. Não precisava de lhe tocar, não precisava de o escutar. Precisava tão-somente de o ver com os seus olhos quase vítreos, por um segundo que fosse, e isso, e somente isso lhe daria Paz. Mas a Paz nunca veio. Só o fim do sofrimento.

Não esteve presente no seu funeral. Estava ocupado a embriagar-se em casa. A celebrar o fim da grotesca caricatura de Júlia, para sempre presa à Terra. Por volta das 4h da manhã, caiu vestido em cima da cama e dormiu 6 horas. Durante essas 6 horas ele viveu num mundo em que Júlia era e não era. Não a conseguia encontrar em lado nenhum, mas sentia-a por todo o lado. Júlia era o planeta. E o ar que respirava era Júlia, e a fina areia argentina sob seus pés era Júlia, e a límpida água do lago turquesa que ele bebia era Júlia, e o lume da fogueira que aquecia a gélida noite Júlia do planeta Júlia era Júlia. E Roberto bem desejou não acordar mais; viver em coma no planeta Júlia e conhecer a felicidade que só se sussurra e só suspeita haver atrás das estrelas. Mas um vento gélido ceifou tudo á sua volta; levantou a terra, tornou o ar difícil de respirar, apagou o fogo e atormentou a água; e o vento falava-lhe em silêncio, mas escutava nele a gutural voz da aberração-Júlia; que lhe dizia:………..
Acordou a gritar e nunca mais tocou em álcool.

Nas décadas seguintes, Roberto não vivia neste mundo mais do que o absolutamente necessário.
Tão-somente realizava por dia as funções absolutamente necessárias para assegurar a sua parca existência. O resto do tempo não estava cá. Estava noutro lugar, onde Júlia não era o Tudo do seu pesadelo/velório, mas era Algo. Era a Júlia-Júlia, a Júlia humana e jovem que conhecia, sempre bela, sempre fresca, sempre viva. Metafísica!
Sim, essa era a boa, velha Júlia. Ele fechava os olhos e ela estava sempre lá. Com a cavalgada furiosa dos anos, Júlia tornou-se mais do que uma memória, tornou-se um Ideal.
Ela era toda a Transcendência feita uma imagem no seu cérebro. Roberto nem sequer se conseguia lembrar se tinha sido seu amante, seu marido, seu amigo, seu irmão, seu pai ou seu filho. Nem isso mais interessava, se é que alguma vez interessou. É possível, mesmo provável que Júlia nunca tivesse sido tão bela nem tão jovem como ele a cristalizou no seu cérebro; ele começava mesmo a duvidar que ela alguma vez tivesse sequer nascido; talvez tenha sido uma história que tenha ouvido, ou que imagine que tenha ouvido quando era criança; talvez ela pudesse ter existido, mas que nem sequer se houvessem conhecido a fundo; talvez só algumas palavras de circunstância, alguns olhares cúmplices a prometer o que não se cumpriu; ou talvez tivesse sido mesmo feliz com ela, 10 anos ou 10 minutos…isso nada interessava.
Quando tentamos criar no nosso cérebro uma imagem representativa de algo que dizem ter sido magnífico, que pode ter existido ou ter sido só uma lenda, pintamos sempre um quadro com as cores mais metafóricas e belas da nossa imaginação. A Atlântida! Via Júlia como sempre quis ver Júlia, como as torres prateadas e arquitetónicamente impossíveis do continente perdido. A Júlia já não era a Júlia-Júlia, nem nunca foi a aberração-Júlia. Era a Júlia-Idéia.
Até que essa imagem se desvaneceu, e o próprio nome deixou de ter significado. Passou a ser um conceito que damos por certo mas ao qual não conseguimos sequer começar por atribuir uma imagem; nesse dia finalmente destapou os olhos e o espectro ainda lá estava, mas já não sozinho.

Ninguém esteve presente no seu funeral, porque ninguém esteve presente na sua vida. E por certo ninguém o transformou num Ideal.