quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Onde o autor se atreve a dizer coisas altamente fodidas contra duas das figuras femininas mais queridas pelo imaginário do Mundo Ocidental

Andamos a ser bombardeados (um pouco por toda a parte) com a evocação do 10º aniversário da altura em que descobrimos que um Mercedes à noite em Paris não é tão assim tão seguro, altura também conhecida por algumas pessoas como a morte de Diana, aka Princesa do Povo, aka Queen of Hearts, aka (inserir aqui a tua própria alcunha pirosa).
A morte de Diana seria provavelmente um bom nome para um óleo de um pintor florentino da Renascença, mas como notícia não me parece algo de extrema relevância.
É certo que o mito e a idolatria nunca deixaram completamente a mentalidade humana, o que é bom, pois a imaginação e a fantasia impedem a total desumanização (e completa racionalização) do Homem.
Como vilões da Idade Média admirámos com reverente inveja os ricos e poderosos. Sonhamos com reis e princesas, e altaneiros castelos. Quando vemos que eles amam, sofrem, erram, pecam e morrem como nós todos, sentimos um misto de desilusão e carinho, reconhecemos-lhe a humanidade, ao ver a forma como a caprichosa e damocliana espada paira também sobre cabeças coroadas.

A Diana pode ter sido a melhor coisa que aconteceu aos Windsor. Mas o facto de não ter sido uma vaca com um coração de gelo como a Elisabeth II, não é motivo para eu a ter adorado em vida, nem de sentir a morte dela mais do que sentiria a de qualquer outra mulher colhida precocemente, deixando dois filhos. E muito menos de eu pensar que o 10ª aniversário da sua morte mereça tanta informação como a que gera a nível global.

Vejamos a sua vida. Casou-se com o gajo mais amorfo e desprovido de carisma que alguma vez esteve na linha sucessória para herdar o trono britânico (mesmo deste lado do canal pareço ouvir o barulho de Elisabeth I e Victoria às voltas nos túmulos). Não vou ousar afirmar se o casamento foi por amor. Mas parece haver muitas vozes que consideram que mais do que por Carlos, Diana estava apaixonado pela ideia do príncipe, pela ideia de vir a ser rainha consorte do Reino Unido. Foi atraiçoada por ele com uma mulher ainda mais repelente que a sogra(!) – e neste momento desculpem, mas voltei do WC após ter vomitado por que me passou pela cabeça que Camila pode ser melhor na cama do que Diana. Teve bulimia, vários amantes, e a rainha nunca gostou dela, porque não lhe perdoou duas coisas: a primeira ter um coração. A segunda ter ensinado aos filhos, que são seres humanos.
Não vou ser cruel ao ponto de insinuar que não tinha consciência solidária, e que lutou por causas nobres, como a luta contra a SIDA e as minas terrestres.
Mas isto é o que os membros das Casas Reais fazem. Afinal, eles têm que ocupar o tempo de qualquer maneira. Pronto, e morreu em Paris, o que sempre é mais lendário do que morrer em qualquer aldeola do norte da Inglaterra.
Posso reconhecer-lhe solidariedade. O que não implica que eu consiga aturar esta cambada de filhos da puta que não param de falar dela, em nome de audiências e lucro próprio.

Depois claro, há o 10º aniversário da morte da freira preferida de toda a gente. OK, a segunda preferida de toda a gente, depois de Maria von Trapp, a Madre Teresa de Calcutá. O mundo católico prepara-se para lhe atribuir a médio prazo o título de santa, o que se virmos bem, não é assim uma tão grande distinção, uma vez que qualquer patarata pode ser canonizado por Roma. Pois bem: eu não podia com a velha! Tudo bem que ia ajudar os pobrezinhos indianos, com lepra e não sei o que mais…mas por outro lado, numa visão nietzschiana, ela estava somente a desfrutar da sua posição de poder (da sua Der Wille zur Macht) e a usar a misericórdia para colonizar espiritualmente e subverter e destruir o sistema de crenças de muitos indianos (muitíssimo mais antigo que o dos cristão, btw). “Se sofrem, é porque Deus quer” era a sua citação favorita, segundo consta, enquanto usava o sofrimento dos pobres e enfermos da Índia como degraus na sua escada para os Céus.

Não me falem mais nelas por outra década, por favor. Obrigado!

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