Uma verdadeira pérola da filmografia de Vittorio de Sica e do neorealismo italiano em geral, "Ladrões de Bicicletas" é uma tocante pequena história que retrata fielmente os anos duros da Itália do pós-guerra, a fome, o desemprego, a falta de oportunidades, o desespero extremado ao ponto de buscar evasão na oração e no recurso a videntes.
Antonio Ricci, um romano desempregado e com família para cuidar, pensa que a Sorte finalmente lhe sorriu quando o Centro de Emprego lhe oferece o lugar de colador de cartazes. Único senão: ele tem que ter uma bicicleta. Como a tivesse posto no prego, vai empenhar os próprios lençóis da cama para ter dinheiro para a resgatar. Porém, logo no primeiro dia quando colava o cartaz, um jovem rouba-lhe a bicicleta. Incapaz de contar a verdade à mulher, e a ter que voltar ao emprego o mais rapidamente possível, com a ajuda do filho e dos amigos percorre Roma numa busca desesperada pelas feiras, sabendo que não pode contar com a ajuda da Policia, que não tem pistas nem vontade de ajudar num caso para eles tão banal como o roubo de uma bicicleta, embora esse roubo possa pôr em causa o futuro de um homem. O desespero leva-o a procurar o auxílio da vidente a que a mulher recorria - contra a vontade dele - mas nem aí consegue resolver o seu problema.
Impressionante o retrato famélico e de derrotado pela vida do actor principal. Sobretudo em duas situações. A primeira quando ele reconhece o ladrão, mas é insultado e enxovalhado pelos vizinhos do bairro deste. A segunda quando ele decide - após ter visto como o filho mais novo de uma família rica que se banqueteava com uma lauta refeição lançava olhares de superioridade ao seu próprio filho, enquanto os dois tinham que se satisfazer com pão com mozzarella e uma caneca de vinho - que não pode desistir do seu sustento, e decide roubar uma bicicleta.
Acaba por ser apanhado, e mais uma vez se resigna, a derrota espelhada no rosto, a ser enxutado e ameaçado por uma multidão em fúria. Acaba por ser perdoado pelo proprietário da bicicleta que quis roubar.
E o filme acaba com ele e o filho a perderem-se no meio da multidão igual a eles, sem rosto, sem nome, sem futuro.
De uma sensibilidade extrema, sem nunca pisar o terreno dúbio da comoção fácil.
Sem comentários:
Enviar um comentário