quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Pecado Original




O livro do Génesis (felizmente nada a ver com Phil Collins), ínicio do Antigo Testamento, ou a primeira obra das 5 que perfazem a Tora judaica, alegadamente escrita por Moisés (e não, este link não te reencaminhou para nenhum site de orientação cristã, é mesmo o meu blog), e as suas características e consequências, pecado original, estigmatização milenar das mulheres, a Serpente, a maçã, etc., é a prova mais cabal que um ser superior e racional é um vírus no planeta, uma enorme nota dissonante e cacofónica no que doutra forma seria um mundo harmonioso e perfeito. O Sol ilumina este sistema solar, a Lua gira em torno da Terra, a Terra gira sobre si mesma e em volta do Sol, Dia e Noite, as quatro estações, gazelas e zebras mais do que suficientes para saciarem todos os leões, de forma que nem os leões se extinguissem nem as gazelas e zebras desaparecessem da face do planeta azul.


Porém, O Homem, esse organismo egocêntrico e virulento!


Na linguagem exagerada, floreada e alegórica da Bíblia, o Pecado Original é a metáfora que nota que o conhecimento e as nossas concepções do bem e do mal, pecado, culpa e remorso são as causas da nossa perdição, da expulsão do Paraíso que era a ignorância e o reino instintivo do Animal, já que no estado Animal seríamos mais felizes do que no estado Racional (e tenho conhecimento que o termo "mais felizes" não é - ironicamente - muito feliz, pois que "Felicidade" é um conceito que deriva da nossa própria capacidade sensitiva e intelectual). Diria antes que no estado Animal não estaríamos sujeitos a nada do que nos preocupa e aflige na nossa condição humana.


Correndo o risco de ser simplicista e redutor, diria que há três pontos que provêm da nossa capacidade de racionalizar e sentir, que contribuem para a nossa infelicidade humana:


1 - A noção do finito: Sabemos e sentimos que um dia vamos morrer, que as pessoas que amamos vão morrer (e no nosso egoísmo desejámos ir primeiro que elas), que as amizades, amores e coisas materiais que temos nunca serão eternas, pois na melhor das hipóteses duram até ao dia em que morremos. Como tal temos medo de morrer. Os animais têm sobretudo um instinto de auto-preservação, mas não um medo de morrer como os Humanos o conhecem.


2 - A sensação de perda: é horrível possuir algo e perdê-lo. É terrível assistirmos ao funeral dos que amamos. Sentir que tínhamos algo que era nosso por direito e sentir que alguém a tomou de nós. Sentirmo-nos esfaqueados na costa quando, onde e por quem menos esperávamos. Sermos assaltados pelas memórias do que de bom tínhamos, pelos remorsos de termos contribuído para essa perda. Alguns animais sentem a perda das crias ou dos pais, mas duvido que tenha um impacto na sua vida tão grande como na nossa.


3 - A Insaciabilidade: Uma das três regras de Hipócrates era "Todo o excesso é contrário à Natureza." Logo, o Ser Humano é contrário à Natureza. O animal não é racional, mas só come consuante o que o instinto lhe dita. Nós afirmámo-nos como racionais, mas mesmo assim a insaciabilidade não nos larga, mesmo quando estamos conscientes que tal coisa é prejudicial à nossa saúde. Quando atingimos determinado patamar, nunca deixamos de olhar para cima e desejar estar no superior. Quando temos certo rendimento, queremos sempre, sempre, sempre mais. Ganância, Inveja, Ciúmes, e todos os pseudos-pecados mortais da pseudo-igreja cristã.
Comemos mas queremos sempre comer mais, bebemos mas queremos sempre beber mais, fodemos mas queremos sempre foder mais, trabalhamos em excesso mas queremos sempre trabalhar mais, para subir mais do que o Zé do andar ao lado, para ganharmos mais que ele. Todos os dias da nossa interacção social (ou vida) negamos a nossa racionalidade para cometer actos que os animais irracionais no seu perfeito "juízo" nunca fariam. É tal o paradoxo humano.


A nossa percepção do Bem e do Mal leva-nos a idealizar conceitos de Felicidade pura e duradoira, uma meta que sabemos que nos é impossível alcançar. Por isso, como seres humanos buscamos naquilo que nos é querido a felicidade momentânea, quer seja na bebida, na droga, no sexo, na religião, no prazer estético da cultura e arte (e nesse campo tiro o meu chapéu ao Homo Sapiens) ou na interrelação com aqueles que nos são queridos. E realmente nada mais importa.

2 comentários:

Carrie, a Estranha disse...

Oi!

Te indiquei pra um prêmio de blogs. Depois veja o regulamento lá no meu blog.

Ah! Perdi teu conto! Rsrsrs...juro q não foi má vontade, mas não sei onde salvei. Me manda de novo, por e-mail? Eu quero ler.

Bjs

Elza disse...

Olá!!
Estou passando por aqui para dar meus parabéns
pela sua indicação, ao prêmio blog 5 estrelas!
Seu blog é muito original, parabéns 2x!
rsrs...
=]