quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Eu sei que a situação da Saúde em Portugal só já lá vai com recurso às Artes Negras...



...mas era mesmo necessário designar o Harry Potter para a pasta de Ministro da Saúde?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

CSI: Guimarães

No fim de semana o ambiente foi de festa generalizada, já que milhões de portugueses tiveram a única alegria que levam das suas vidas tristes e desprovidas de sentido: o FCP perdeu!

Aliás, o placar electrónico não mentia:

Sporting 0 - Helton 1 - Xistra 1 - FCP 0

Lucho e Licha são um exemplo a seguir por todos. Não posso dizer o mesmo da diva mimada cigana. Nem do Jesualdo. Aliás, o jogo poderia mesmo ser chamado "O assassinato de uma vitória fácil pelo covarde Jesualdo Ferreira".

Aparentemente, havia na bancada actores de uma das séries do CSI. Paradoxalmente, foi por um triz que as suas personagens não foram necessárias em Guimarães, onde houve um esfaqueamento impune a um adepto do Vitória local. Vitória de Guimarães que, se no campo de jogo foi derrotado sem espinhas, no campo da criação de um ambiente de terror (e note-se que os adeptos do Vitória até não são nenhuns anjos) levou uma verdadeira lição de alguns dos adeptos da equipa visitante. Aliás, quando hoje ouvi no Telejornal dizerem:

"...estavam a ser atacados com catanas e arcos e flechas, e houve mesmo duas pessoas imuladas pelo fogo" por instantes pensei que estavam a falar do ambiente fora do Estádio D. Afonso Henriques, e não da situação de guerra civil no Quénia.

sábado, 26 de janeiro de 2008

(!) significa ironia ácida

O buraco negro intelectual que é a TV em Portugal(!) tem o seu ponto G nas tardes de Sábado na SIC. Já nem falo no joguinho de futebol de salão (ou fut-sal, ou lá como se chama essa merda) que transmitem todos os santos sábados só porque "o clube da malta" é o maior nessa modalidade amadora. Falo, isso sim, no Clube VIP ou lá como se chama aquilo. Vi uns minutos nesse sábado, obrigando-me a essa tortura para ver qual era a minha resistência à náusea e ao vómito. Não é grande. Só o suficiente para ver que pelos vistos a SIC acha importante consultar um vidente(!) para verificar o futuro da relação entre uma actrizeca de novelas e o mulato que cantava naquela banda(!!!) que por acaso até era da concorrência.

Depois passaram para as notícias sobre a Superleague Formula, onde o único clube português a ter um carro é o FCP. O jornalista(!) que estava a fazer a reportagem, achou que seria adequado fazer piadinhas tipo "o pistão dourado".
É incrível como toda a gente(!) considera o FCP um alvo de ódio generalizado e válido, pelo que se pensa normalmente que se pode dizer em público tudo o que se quiser contra o clube, de forma impune. Um pouco como se o FCP fosse um símbolo do mal como o Engenheiro, o Bush ou o Hitler.

PS1 - Eu coloquei os três exemplos que dei por ordem DECRESCENTE de perversidade.
PS2 - Note-se que quanto a dizer mal do Engenheiro de forma impune, tenho as minhas reservas...

sábado, 19 de janeiro de 2008

FA-BU-LO-SO

Como é que demorei 3 anos a descobrir isto?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Nota: Budapeste não é à beira-mar

Lembro-me como se fosse ontem. Não que tenha tido alguma importância. Importância alguma. São aqueles nadas, aqueles pequenos nadas que ficam escondidos em alguma sala secreta ou cave escura do nosso cérebro, e que depois, sem sabermos porquê nos vêm assombrar durante alguns dias, e vemo-los claramente como se tivessem acabado de nos suceder, e depois rastejam para o canto sombrio de onde vieram, deixando no ar a possibilidade de voltar, ou não.



Era um fim de Setembro em Budapeste, e eu estava serenamente sentado numa esplanada de um restaurante à beira-mar. Era um dia de semana, talvez 3ª-Feira, talvez 5ª-Feira, e as pessoas continuavam os seus afazeres ou voltavam para casa. Estava um pouco de frio, mas eu sentia-me feliz, nesse doce ócio, de ver o tempo passar serenamente. Bebia cerveja atrás de cerveja. Uma cerveja amarga, escura e belga, e tentava-me concentrar na leitura de “Fenomenologia do Espírito” de Hegel, quando ouço alguém chamar-me em tom jovial.

- Então, Y., ´tá tudo fixe contigo?

Levanto a cabeça para uma figura alta e esguia, mas o sol crepuscular é muito forte e fere-me os olhos. Esfrego os olhos e por instantes não consigo discernir o meu interlocutor. A voz é-me familiar, alegre e arrastada, meio rouca a sugerir catarro, excesso de fumo. Mas a cara é-me estranha por uns segundos-eternidades. Finalmente um sorriso circunstancial de reconhecimento assola-me a minha até então vazia face.
Respondo:

- Oi, não te estava a reconhecer.

Era Herodes.

Herodes sentou-se ao meu lado e mandou vir uma enorme caneca de cerveja bávara. Petiscamos caranguejos e ostras vivas. Limpo a boca a guardanapos de papel engordurados. Sente-se um cheiro forte e acre a limão.

- Lamento pela tua irmã, Y..

Nada digo. Encolho os ombros e agradeço.

- Passaram-se quê? Dois anos!?

Herodes apresentava-se impecavelmente barbeado, salvo pelo seu bigode e fina pêra prateadas. O longo cabelo estava preso atrás. Ele usava casacão de ganga azul e calças jeans negras. Uma t-shirt branca com um logótipo que demonstrava ser uma contrafacção óbvia da Adidas. Usava All-Stars totalmente negras. O porte era majestoso, a indumentária menos. E eu não pude deixar de pensar que ele era um monarca sem coroa, um rei-nada. Metallica soa-me na cabeça.

- Por aí.

- Ela sofreu muito?

- O bastante para a sua morte ter sido um alívio para ela mesmo e para todos nós.

- “Wherever she is, I hope she is singing now”, como diria o gajo dos Smiths.

- I don’t.

E o assunto morreu ali.

- Estou preocupado, Y.. Dois gajos brancos e um preto disseram-me que estava para nascer um puto que iria tornar-se rei dos judeus em meu lugar.

- E…?

- E como tal, decidi mandar matar todos os bebés nascidos a 24 para 25 de Dezembro. Antes jogar pelo seguro.

Rio-me.

- És um ponto, Hero. Um grande, grande ponto. Vais mandar fazer um massacre de inocentes, vais matar dezenas, centenas de crianças, no fundo o que tu estás a fazer é matares a inocência e o futuro e a esperança da tua nação, e para quê? Para manteres uma falsa ilusão de poder? Não te apercebes que não és mais do que um joguete nas mãos dos romanos, um monarca fantoche vassalo de César?

Herodes baixou os olhos.

- E contudo, a ilusão de poder é o que me mantém vivo.

- Oh Herodes, porque é que não te fodes?

E assim dizendo, levantei-me e deixei-o sozinho para me pagar a conta.

Foi a última vez que vi Budapeste.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ano Novo, Pool nova ou "Mudam as pools, mas a merda é a mesma"

Para começar o ano em beleza, nada como cumprir as resoluções do Ano Novo. Se considerarmos este como o 4º Post deste mês, a 2 de Janeiro já publiquei tantos posts como em Dezembro do Ano Passado.





Observem as fotos dos dois cavalheiros de cima. Que têm eles em comum? A priori, só 3 coisas:

1 - Usam óculos
2 - Estão mortos mas a sua obra é imortal
3 - Ambos gostavam do que faz rir.

Pois agora têm uma nova coisa em comum. Ficaram ambos em 1º lugar na minha longa pool sobre "Qual a personalidade morta com quem gostavas de fazer uma 'viagem'?"

Ambos conseguiram 16 votos cada, num universo de 75(!) votantes. Aqui fica o resultado final:


Fernando Pessoa (com Ópio)
16
21%
e
John Lennon (com LSD)
16
21%

Jim Morrison (com cocaína e heroína)
12
16%

Sigmund Freud (com cocaína)
8
11%

Edgar Allen Poe (com Álcool e Ópio)
7
9%

Charles Baudelaire (com absinto e haxixe)
5
7%

Carlos Castaneda (com peyote)
4
5%
e

William Borroughs (com heroína)
4
5%

Aldous Huxley (com mescalina)
2
3%

10º
Elvis Presley (com barbitúricos)
1
1%
Após um ano, é altura de um novo inquérito. Porém, nada de lamechices e idéias batidas sobre o que achaste de menos mau em 2007 ou o que esperas de 2008! NÃO! Sempre na linha da frente, Andrade v 2.0 sugere-te votar no que aconteceu de melhor neste ano de 2008.* Participa. Senão os terroristas vencem!
* A direcção do Andrade v 2.0 faz notar que a pool é para efeitos de entertenimento unicamente, e não poderá ser responsabilizada por eventuais desiluções causadas pelo facto de uma ou várias opções da pool não se terem concretizado

As minhas resoluções de Ano Novo

Aqui vão as minhas resoluções de Ano Novo:

1 - Postar mais.

É só. Na verdade, é a melhor das opções. Estabeleço metas realistas, não há a mínima hipótese de me ter esquecido a 20 de Janeiro, e, a não serem cumpridas, não vem daí mal nenhum ao mundo, antes pelo contrário.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Control


Muita gente viu o filme dos Simpsons, aguardado há quase 20 anos. Curiosamente, a opinião de quase toda a gente é: “Não passa de um episódio mais longo”. Ao que eu respondo que isso não é obrigatoriamente mau, mas em última análise, estavam à espera de quê?

Algumas pessoas viram o filme Control, sobre a vida e morte de Ian Curtis, mítico vocalista dos Joy Division, banda emblemática do cenário Post Punk, que se enforcou aos 23 anos de idade. Não curiosamente, a opinião de quase toda a gente é: “É um filme muito cinzento”. Ao que eu respondo que isso não é obrigatoriamente mau, mas em última análise, estavam à espera de quê?

Um filme sobre os subúrbios de Manchester no início da era Thatcher, um filme sobre os Joy Division, um filme sobre Ian Curtis, dificilmente poderia ser pintado com alegres paletes, independentemente de quem realizasse o filme. Mas um filme sobre Ian Curtis realizado pelo fotógrafo/realizador de vídeos musicais holandês Anton Corbijn só podia mesmo ser cinzento. Relembremos que Corbijn não se limitou a capturar, no final dos anos 70, o mundo cinzento de Ian Curtis. Ele foi um dos principais impulsionadores do que se poderá chamar estética urabano-depressiva. Veja-se o clip de Atmosphere, de sua autoria.

Este belo filme, mais griz que o manicaistamente habitual preto-e-branco, é vagamente baseado em Touching from a Distance, o morninho e ambivalente livro de Deborah Curtis (que dizem as más línguas terá afirmado sobre o Control: “I fucking hated it!”). Poderá parecer bastante parado aos seus detractores, que afirmam que chegou ao ponto de dar uma imagem muito morta do Tony Wilson, que era tudo menos uma personagem apagada. Penso que todos concordamos que Tony Wilson foi alguém muito mais interessante e colorido que Ian Curtis, e que 24 Hours Party People é um filme muito melhor que o Control. Porém, é minha opinião que essa “mortificação” de Wilson é propositada, e causada por isso mesmo: pelo facto dele ter sido alguém mais interessante e colorido que Curtis. O filme não poderia sair nunca da órbita de Curtis.

E para mim, é aí que o filme ganha toda a sua beleza. Mais do que tratar da vida e morte de Ian Curtis (música, casamento, paternidade, adultério, ataques epilépticos, suicídio) e da história dos Joy Division; este filme trata de um triângulo, que ultrapassa os limites do amoroso e entra no campo das concepções de vida. O filme poderia haver-se chamado Deborah vs Annik.

Produto do seu meio sócio-cultural, Ian Curtis era uma pessoa simples, mesmo mesquinha e conservadora. Nesse sentido, Deborah era a incorporação de todos os seus pequeninos sonhos de classe trabalhadora: Girl next door, simples como ele, dócil e que votasse Tory por imposição do marido, casamento de sonho, filhos, um emprego estável, um pacato envelhecer nos subúrbios do Noroeste inglês.

Annik Honoré era o oposto, e o tipo de mulher a que Curtis só teria acesso pela via do estrelato. Estrangeira, exótica, continental (se é que um belga pode ser exótico), com um emprego emocionante de jornalista, livre-pensadora, uma mulher independente que consegue fazer-se notar num mundo de homens.

Em Maio de 1980, ciente do adultério, Deborah Curtis exige o divórcio. A imagem do casamento precoce e feliz derroca, e Ian Curtis, porque ele ERA tacanho e muito conservador, vê-se frente ao seu pior pesadelo: Divórcio. Surge o eterno drama pequeno-burguês inglês: “What will the neighbours think!?”.
Face a isso, e com a mente em erosão constante, Ian Curtis incapaz de lidar com os problemas e face a voos demasiado altos – “I will see you Monday” terá dita à banda no fatídico sábado que precederia a Tornee dos Joy Division nos EUA - realiza o que Tony Wilson uma vez chamou “o mais altruísta dos suicídios”.

Não concordo que tenha sido um acto de altruísmo, mas foi certamente o acto de desespero de alguém cuja ambição era muito pequena. Ícaro morreu porque sonhou sempre ir mais além. Ian morreu porque os factos ultrapassaram os seus sonhos.

Control não é o melhor filme de sempre. E Ian Curtis não era o melhor músico ou a melhor pessoa de sempre. Mas o filme retrata bem a ideia que muita gente tem sobre o imortal vocalista dos Joy Division. E quando em qualquer bar ou disco em qualquer parte do mundo o baixo de Peter Hook começar a tocar os primeiros acordes de “Love will tear us apart”, e pessoas de todas as idades, mesmo que tenham nascido depois de 1990 reagirem imediatamente, isso só vem provar uma das ideias mais batidas do mundo: “morre o homem, nasce a lenda”.

Cheers, Ian, wherever you are.

Isto é 2008


Esta é a nova suástica.