quinta-feira, 10 de maio de 2007

Moloch


Escutai-Me e venerai-Me, povos da Terra, pois eu sou Moloch, o vosso Deus e Senhor.
Moloch, o Deus, Pai e Criador do entretenimento cultural de massas.
Moloch, o Supremo Arquitecto da Arte Comercial.
Estabeleci hoje e para todo o sempre uma aliança com o Homem e a sua descendência. Adorarás a cultura Pop conformista e só a ela prestarás culto. Rejeitarás as tentações do Satanás Alternativo, do Demo Indie. Destroçarás os velhos ídolos pagãos dos teus pais, os baladeiros revolucionários, os poetas malditos franceses, os autores beatnicks americanos, o cinema europeu de vanguarda. Seguirás pela via direita da Arte Capitalista de consumo imediato, e não seguirás pela luciferiana via esquerda da Arte Contestatária e da Estética que desafia preconceitos e padrões. Por toda a parte sentirás Moloch. Quando vires uma canção em que o videoclip e a coreografia sejam mais importantes que a letra e a música, lá estará Moloch. Quando vires um blockbuster, lá estará Moloch. Quando leres qualquer livro comprado numa estação de serviço, lá estará Moloch.
Mil maravilhas fez Moloch. Dirigindo-se a Shakira, assim lhe disse: “Que fazes no 3º Mundo? Vai para as terras do norte, onde processarás a um ritual de slutização. Pinta o cabelo de louro, canta em Inglês e mexe-te nos clips, e logo estarás com Moloch no Paraíso Músico-Conformista da MTV, patrocinada pela Pepsi e pela Nike”.
Iluminou as mentes e os corações de Michael Mann, Ron Howard e outros, e era a bela a sua obra e lhes disse: “Benditos sejais vós entre os realizadores do cinema e bendito o fruto das vossas mentes gananciosas. E tu, Spielberg, filho bem amado, farei de ti a ponte entre os fiéis e os descrentes. Alterarás a tua carreira entre o blockbuster e o filme de culto, terás sempre êxitos de bilheteira e – quase sempre - a aclamação de crítica e público.”
E virou-se para Nicholas Spark, e Dan Brown e lhes disse: “Difícil é vossa tarefa, pois que vossas obras as não possuem o mediatismo e o imediatismo do som e da imagem; mas nada temeis, pois ditosos sois a meus olhos. Farão comédias românticas e blockbusters baseados em vossos livros, e logo os olhos da Terra estarão postos em vós. Farei de ti, Spark, e de ti, Paulo Coelho, com a tua filosofia pseudo-esotérica, grandes aos olhos do nicho de mercado mulheres acima dos 35 anos de classe média-baixa suburbana.
Adorai-me povos da Terra e desfrutarão de uma panóplia do mais maravilhoso que a Arte Comercial tem: farei em vossa honra séries de TV espectaculares, maravilhosos filmes de culto com efeitos especiais assombrantes e com muito merchandising, vendido na Toys´R´Us ou oferecido nos Happy Meal da McDonald´s e criarei grandes músicos de qualidade ímpar, mas extremamente lucrativos: Madonna, U2 e tantos outros artistas consensuais e rentáveis. O meu amor por vós é tão grande que chegarei ao ponto de vos mandar músicos que se proclamarão Indie e realizadores “Alternativos” para os infiéis poderem seguir o caminho de Moloch e sentirem-se inconformistas. O Corporate Rebel é o profeta de Moloch e o inconformismo controlado a sua via. Mas também vos castigarei com coisas terríveis, “livros” “escritos” por putas e desportistas, músicas medíocres e filmes detestáveis que só a máquina de Marketing de Moloch sustentará. Aceitai o bom com alegria e o mau com paciência, meus filhos, e podereis ser filhos de Moloch. Como holocausto demando apenas os vossos euros, dólares e cérebros. Pois a obra de Moloch está só nos sentidos e não no raciocínio.
E toda a gente adorou Moloch, seu Deus e Senhor.

Palavra de Moloch

2 comentários:

Anónimo disse...

Hehehehe...

Inês Ramos disse...

Está demais!Amen!