"Bicharada realmente repugnante"
Episódio #351: O Bufo
O bufo (nome cient. Chibus Buffus Dellatorunns), também chamado de chibo, denunciante, delator, acusa-pilatos, queixinhas ou “aquele filho da puta que disse ao boss que a culpa foi minha”, por muitos considerado uma aberração da Natureza, é na verdade uma maravilha incompreendida e injustiçada da Evolução.
Um mestre do engodo simbiótico e da sobrevivência, o bufo parece, à primeira vista, ter uma fisiologia primata, mas uma observação mais atenta, mesmo a olho nu, denuncia-o como um formidável e improvável cruzamento entre uma cobra traiçoeira e um rato medroso, um roedor invertebrado e sinuoso, viscoso ao toque e repelente à vista.
Perde-se na noite dos tempos a origem do bufo. Dentro da comunidade científica, é corrente a opinião que o bufo existe desde que há clivagens naturais ou sociais entre os animais. Há quem diga que são anteriores às baratas e que, após o Inverno Nuclear serão a última coisa a desaparecer da face da Terra, denunciando-se uns aos outros até o fim. E há mesmo quem diga que existe um capítulo perdido na “Origem das Espécies” em que Darwin defende a teoria de que o primeiro bufo era um organismo unicelular que indicou ao cardume que um dos peixes estava a sair da água para se vir a tornar um réptil, e depois um mamífero. Mesmo as religiões aceitam a existência do bufo. Não temos que esperar por Judas para termos a primeira referência ao bufo na Bíblia. Na verdade, no Livro do Génesis, a Serpente depois de ter dado a maçã à Eva, foi ter com Deus e disse-Lhe:
- Olha lá, Javé, aposssto que não sssabes o que o Adão e a Eva esssstão a fazer.
- Se é sexo oral ou anal, não faz mal. Apesar do que se diz por aí, Eu não vejo mal nenhum nisso.
- O quê? Não, essstão a comer a maçã…
Segundo a tradição judaico-cristã, a Serpente teria sido o 1º bufo.
O que é um facto científico indiscutível é que estes fabulosos animais existem em toda a parte da Terra, em todas as latitudes e longitudes, em todas as altitudes e profundezas, em todos os terrenos, condições climatéricas e postos de trabalho. Sobreviventes natos e magníficos adaptam-se depressa a qualquer mudança no seu ecossistema, por mais brusca ou radical.
O bufo dispõe de uma voz que ele usa em seu proveito, quer através de suaves sussurros nos ouvidos certos, quer através de uma canção bem audível.
O seu Modus Operandi é totalmente imprevisível, o que não torna fácil a sua classificação zoológica. De forma alguma pode ser considerado um mamífero racional, e cai mais facilmente na definição de entidade virulenta e parasitária, vivendo à custa do mal alheio. E contudo, o seu comportamento parece obedecer a uma estrutura racional, e mesmo estratégia. Numa palavra, o bufo dispões de informação, informação que está disposto a usar contra animais que lhe estão ao mesmo nível ou acima na cadeia alimentar, quer por motivos de sobrevivência, quer como forma de subir nessa mesma cadeia, ou tornar-se um exemplo entre os seus pares. Mesmo sendo o seu MO imprevisível, há 3 estratégias-padrão usadas pelo bufo:
1º) chantagem: fazer crer a vítima que ele irá usar a sua informação, quer a use quer não
2º) traição: usar a informação quando menos se espera
3º) show-off: usar a informação no meio de grande audiência
Um solitário por natureza, a única lealdade do bufo é para com ele mesmo, e para o animal, que a um dado momento estiver mais adequadamente posicionado na cadeia alimentar. É-lhe importante ter a cada momento a aprovação (mesmo que no fundo ele o despreze) desse animal, independentemente da opinião de todos os outros em relação a si. Fá-lo sentir-se importante e, como dissemos, um modelo de virtude. Ou em última análise, distrai a atenção em relação às suas próprias falhas. Esse comportamento patológico de se colar ao poder, faz com que o leigo o confunda com o graxista (nome cient. Hommos Yessus Oleosis Lambe-cullis), também chamado de lambe-botas ou lambe-cus. A verdade é que o bufo e o graxista são aparentados, assemelhando-se na total ausência de sistema nervoso central. Não raras vezes acasalam, e muitas vezes um bufo e um graxista são uma e uma só besta.
Por vezes irritantes, há alturas em que os bufos são uma verdadeira praga. Impossíveis de exterminar, sugere-se que se trate da saúde a um ou outro de vez em quando.
A melhor maneira de o fazer é quando eles são ainda crias, na fase “queixinhas”. Normalmente espera-se que ele saia da sala de aulas e faz-se-lhe um convite para um projecto científico: “Vamos ver o que se parte primeiro: a tua cara ou os meus punhos”.
Na fase adulta são mais difíceis de serem travados, mas um taco de basebol ou uma barra de ferro na cara costumam dar resultados satisfatórios.
Não perca no próximo episódio de “Bicharada realmente repugnante”:
Os bloggers! (Não aconselhável para crianças ou pessoas facilmente impressionáveis).