Por puro acaso, há dias fui cair no site de o que aparenta ser uma revista inglesa para a mulher socialite.
Eu gosto de mulheres socialites. Não têm nada a ver com essas gananciosas working girls que para aí andam, “ahdotrabalhoparaoginásioparacasaeugostomuitodeleraCosmopolitanadorava encontrarumdejeitomasosmelhoresousãocomprometidosousãogaysquemsabeumdiater filhosmascarreiraprimeiromeudeusjátenhorugasseráqueelevainotarsenãogostarquesefodaatéporqueaquilonãovaidaremnadaqueinvejadasminhasamigasporra”.
Nada disso. As mulheres socialite, respect! São o sal da terra e pilares da sociedade. Não têm nada na cabeça, mas têm os bolsos cheios da herança do papá e/ou porque souberam/sabem foder os gajos certos no local certo e na altura certo. Há que respeitar isso! E aparecem a mostrar as crianças em Andorra e Suiça no Inverno e nas Caraíbas no Verão (ou nas Fiji/Seicheles/a ilha exótica que esteja in este ano), participam em obras de caridade, festas temáticas, vernissages, vão a eventos culturais que seja fino assistir, e onde têm que ser vistas, tentam novos restaurantes exóticos…
Por acaso fui parar numa crítica a um restaurante português em Londres. O autor do artigo não gostou especialmente (deu-lhe um mediano/medíocre valor de 2,5 estrelas), e chegou a brilhante conclusão que a comida portuguesa é exactamente igual a espanhola (não existe comida espanhola. Existe cozinha galega, asturiana, castelhana, valenciana-catalã , navarra-basca…), mas ainda mais salgada. Tudo bem. Na mesa e na cama, gostos não se discutem! Como não aceitar que a mediterrânicamente oleosa comida portuguesa arranha as delicadas e eruditas papilas gustativas de um povo que gosta de comer com as mãos peixe frito e batata frita enrolada em papel de jornal e de comer empadão de fígado e rins de carneiro?
Porém, quando vais ler a crítica de um restaurante étnico e os primeiros 3/4 da crónica são para atacar gratuitamente o país de origem do dito restaurante, tu sabes que estás a lidar com um crítico imparcial e profissional. A ideia-básica a reter é que éramos uma potência e agora somos um zero à esquerda (e novidades?). Começa a dizer que a Inglaterra se tornou nossa aliada à 700 anos, porque mais ninguém queria ser amigo de Portugal (o que é mais ou menos o que a América faz com o Reino Unido hoje…) para acabar com esta frase lapidar: “Diga o nome de três portugueses que não tenham sido marinheiros”.
É engraçado…desde quando maior riqueza per capita tem influência no reconhecimento internacional? A Dinamarca é riquíssima. Eu só conheço 2 dinamarqueses famosos:
Hans Christian Andersen e o Søren Kierkegaard (e este último “é” um filósofo alemão, tal como Kafka “não é” um escritor checo). Diga o nome de um finlandês que não tenha inventado nenhum sistema operativo! Diga o nome de um holandês que não seja pintor! (a família de Anne Frank era alemã e Baruch Espinoza um judeu sefardita luso-espanhol).
E que caralhos têm tudo isso a ver com o facto do crítico gastronómico ter achado o presunto português muito gorduroso e salgado?
É triste ter-se sido rico e agora ser pobre. Mais triste ainda deve ser ter-se sido dono e senhor do mundo, e agora não passar do lacaio número um dos novos senhores do planeta.
*ethnic em inglês é tudo que não for anglo-saxónico, da mesma forma que world music é toda a música não cantada em inglês ou espanhol (que aí terá o nome de latino music).
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
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2 comentários:
Bem dito.
O novo blog está muito interessante, parabéns.
Fuck meu , assustaste-me. Considera-te adicionado aos favoritos. Talvez não te lembres mas foste tu que me meteste nesta paranóia dos blogs ( lá no fórum em bife do FCP).I do not want my mentor to perish.
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