sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

O Aborto da Ilha

"Tens 9 anos e estás grávida de um turista belga. E queres abortar!? Na Ilha não, querida! O teu direito constitucional perde força face ao carácter vinculativo da minha arma!"

A última diarreia mental do Aborto da Ilha gira à volta de duas idéias-chaves. A primeira é que os portugueses não têm testículos pelo facto de, na sua maioria (dentro da minoria que se deu ao trabalho de ir votar), terem dito SIM à despenalização da interrupção voluntária da gravidez no recente referendo. A segunda é que se a lei for aprovada (SE!! LOL) ele próprio irá contestar a sua validade constitucional, dado o carácter não vinculativo do dito referendo.

Sabem, eu não sou uma pessoa educada e culta como o Aborto da Ilha. Não passo de um pobre campónio semi-analfabeto e para o Aborto da Ilha eu devo ser um cubano/comuna/terrorista/ateu/excomungado/assassino de crianças (essa inesgotável fonte de rendimento da Ilha), que irá para o Inferno juntamente com toda a sua cidade de cubanos/comunas/terroristas/ateus/excomungados/assassinos de crianças (essa inesgotável fonte de rendimento da Ilha), o único distrito do Norte que teve a ousadia iconoclasta de dizer SIM! SE eu fosse responder da forma que sei aos seus argumentos, teria que escrever uma longa epístola em que, usando e abusando de uma linguagem, vá lá, colorida e gráfica, bem brejeira e ao nosso gosto ("Gil Vicente e tal" como diriam os outros), sugeriria ao Aborto da Ilha que fosse visitar lugares bem exóticos; que se envolvesse em relações sexuais, algumas das quais algo bizarras e badalhocas, e incluindo seres vivos não necessariamente humanos; e ainda daria o meu palpite sobre a profissão exercida pela senhora sua mãe.

Consciente da minha inferioridade face ao Aborto da Ilha, tentarei apenas reduzir a minha ignorância campestre, levantando várias questões evitando o vernáculo do meu norte (conti)natal, por respeito a tão refinado pensador e cavalheiro.

1 - "Os portugueses não têm testículos porque votaram Sim!"

Isto significa que o Aborto da Ilha é um nosso compatriota destesticulado, ou que se afirma como um estrangeiro?

2 - Se é estrangeiro, podíamos parar, por favor, de lhe enviar o nosso dinheiro?

3 - Mas espera, da última vez que eu vi, eu tinha um par deles! Significa que eu não sou português, ou terei alguma maleita fatal, quiçá um temor maligno manifestado pela existência de dois inchaços (um um pouco maior que o outro) na região da minha - de outra forma rasa - virilha?

4 - Se não temos testículos, porque há gravidez, abortos e referendos? As nossas mulheres andaram aí na maroteira com estrangeiros?

5 - Os referendos sem força vinculativa têm força vinculativa nos casos em que a nossa opção ganhou?

6 - Mais abortos = menos meninos pobres na Ilha = menos realizadores de filmes "independentes" neerlandeses a visitarem a ilha = menos euros a rechear os cofres da Ilha. Esta equação está correcta?

7 - O Aborto da Ilha saberá que já estamos todos um bocadinho fartos de darmos dinheiro para financiarmos clubes de futebol da Ilha e jornais de propaganda partidária da Ilha, ao mesmo tempo que somos insultados?

8 - O Aborto da Ilha tem muitos fãs dele e do seu estilo no continente. Não seria possível que imigrassem todos para a Ilha?

9 - Se os portuguesses tivessem mesmo testículos, dos grandes e no sítio, algum Primeiro-Ministro, Presidente da República ou dirigente do partido do Aborto da Ilha já teria metido aquele grande filho da puta no seu lugar. Significa que ele tem razão?

10 - No próximo referendo, não podemos decidar dar a independência àquela merda?

PS - Vá lá, só usei dois palavrões: "merda" e "puta". Nada que não tivesse sido já dito no Parlamento da Ilha para insultar deputados de outros partidos.

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