sábado, 3 de fevereiro de 2007

Está frio...

Um cego encontra-se perante uma bela estátua. Acariciando-a com as palmas das mãos, vai percorrendo cada centímetro, cada angulosidade, cada curvatura da obra, até visualizar no seu cérebro a forma. E chegou à conclusão que era bela, esta forma. Depois martelou suavemente com os nós dos dedos a estátua, e a sua audição feriu-se com o som do vácuo. Foi quando chegou à conclusão que a beleza da forma se acabava no silêncio e no frio da pedra.


Eu estava lá, e eu estar lá parecia fazer toda a diferença. Não se notou ao princípio mas depois, com o passar do serão. “Foi bom ouvir sons humanos outra vez naquela casa”, foi-me dito ao fim; e um silêncio sorumbático foi a única resposta que dei, e no meu âmago esse silêncio foi agridoce.

Estava feliz por ajudar, aquela felicidade que o é porque se confunde com o orgulho de (poder ser capaz de) ajudar…mas não deixei de estar triste por eles, e sobretudo por ela.
O calor que me dedicaram foi sincero e verdadeiro…e eu senti-o. Mas também senti que foi uma excepção, fui uma excepção. E senti frio!

Não há nada errado naquela casa…não deve faltar amor. Mas é tudo tão…FRIO! E silencioso…e o frio, e o silêncio e o tédio transbordam dos lares mais felizes. Não me atreveria a chutar a pureza alva da parede da sala…quantas baratas devem lá existir. E quantos esqueletos de tantos dias e tantas noites frias e silenciosas e entediantes.

Já em casa, preparo-me para dormir. Só, mas não me sinto sozinho. Sinto-me na minha toca, seguro e aconchegado do frio que se faz sentir; adormeço pensando no paradoxo que a Solidão é um jogo que se pode jogar a dois.

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