sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Scoop

E com este post retomo aquela antiga tradição de mandar os meus bitaites sobre filmes que vi. Desengane-se, porém, quem pensa que isto vai ser como antigamente, em que eu postava sobre toda e qualquer bosta que ia ver ao cinema. Sou uma pessoa mais criteriosa, e já há muito que me deixei de gastar o meu tempo e dinheiro – nem um nem outro são abundantes – em merda! Pelo menos faço por isso, mesmo que esse objectivo nem sempre seja alcançado.

Podem dizer que o homem está velho, acabado, que perdeu punch…é natural, a idade não perdoa, e após tantos e tantos filmes torna-se difícil manter o mesmo ritmo, e a mesma frescura, e a mesma originalidade. Mas que querem? Eu gosto muito do Woody Allen. E continuo a gostar. Não gosto por ser fino ou intelectualóide gostar do tio Woody, mas porque vou ver os filmes dele - alguns são melhores que outros, evidentemente - e me entretenho. Gosto dos filmes deles porque me entretêm, sim, mas não aquela sensação de divertimento acéfalo e vazio que nos invade depois de termos visto uma comédia idiota, um slasher movie sem categoria ou um blockbuster com mais marketing que conteúdo. Há dias falava com alguns amigos que não apreciam especialmente o tio Woody, e houve um que disse: “O Match Point sempre é melhor que o Scoop.” Como filme, concedo que sim. O argumento do Match Point é mais denso, mais twisted e – apesar de não ser um paradoxo de originalidade – é menos previsível que o Scoop. Match Point é um filme mais sério, e em termos de contextualização, mais “inglês” que Scoop, que apesar de também ter sido filmado no Reino Unido (o Velho Continente sempre valorizou mais Allen que o seu próprio país) poderia muito bem se passar na sua querida Nova York.
Mas a questão é que, apesar de eu considerar o Match Point um melhor filme (embora não dos melhores de Woody Allen), gosto mais do Scoop. E porquê? Porque o Woody Allen participa como actor. E eu gosto mais assim. Outro amigo meu disse que as personagens deles são sempre irritantes e sobretudo iguais. Mas evidente! Isso acontece porque as personagens dele…não são personagens! Seja qual for o nome que apresentem, as personagens são sempre o Woody Allen. Aquilo é o que o Woody é, aquilo é o que o Woody diria, aquilo é o que o Woody faria se estivesse na mesma situação da personagem.
Em Scoop, quando ele diz “I was born on the hebrew religion, but I converted to narcisism”, ou quando a Scarlett Johansson (que “A Ilha” seja lembrado como apenas um acidente de percurso numa carreira que se espera longa) lhe diz “For you, the glass is always half-empty” e ele responde: “No, for me it´s always half-full…of poison!”, ou ainda quando a personagem dele descreve o que gosta ou desgosta em Londres, ali sabemos que o filme parou e que estamos a escutar o verdadeiro Woody, o bom, velho, paranóico, neurótico, existencialista Woody. Gostei da sinergia entre a personagem dele (um ilusionista americano) e a da Scarlett (uma aspirante a jornalista americana que contacta através de um truque do mágico, com o fantasma de um famoso repórter morto, que a pode ajudar a encontrar o grande “furo” jornalístico que lance a sua carreira), e aprecio a versatilidade cinematográfica de Hugh Jackman.
O argumento, embora aligeirado, não é fútil, focando sobretudo na dicotomia entre a razão e a emoção, vontade e sentido do dever, o que desejamos e o que sabemos (ou tememos) ser certo, entre o que idealizamos e a realidade.

O melhor de Woody já lá vai? Talvez. Mas se todos envelhecêssemos assim, a decadência seria uma coisa maravilhosa!

Sem comentários: