Uma vez por brincadeira disse que se aquele jogador de futebol moçambicano da década de 60 ganhasse o prémio de “O Maior Português de Todos os Tempos” eu demitia-me de ser português. Felizmente isso não sucedeu; mas mal sabia eu que uma coisa bem pior iria ocorrer. Que Salazar chegue ao top 10 de maiores portugueses de todos os tempos é um insulto ao sistema democrático, uma escarradela na memória de todos os que tombaram a combater o fascismo. Se ele ganhar será hediondo. Se ficar em 10º é horrível!
Um país que se orgulha do seu defunto tirano, de um dos grandes responsáveis pelo estado lastimoso a que isto chegou, a nível económico, social e cultural é um povo que não merece ser livre. É um país moribundo. Portugal tem um tumor maligno incurável e fatal no seu próprio código genético. Mas a morte não será piedosa, rápida e indolor. É uma morte faseada que faz o corpo do paciente definhar. E o fim, a libertação do sofrimento não está á vista.
Há algo em nós que nos faz repudiar a mudança. No mais urbano de nós há um espírito de aldeia. Uma ligação ao mundo antigo que não conseguimos quebrar. É inútil. Somos uns impotentes culturais. Tentamos, esforçamo-nos ao máximo, mas ainda somos campo. Ainda gostamos do cheirinho da carne de judeu ou árabe a queimar no centro da praça. Ainda gostamos de curvar a cabeça ao senhor presidente, ao senhor polícia, ao senhor cura. Ao chefe da tribo. É tão mais fácil ter um paizinho a decidir por nós.
Discutiu-se se a escolha por Salazar e Cunhal não será a prova que os portugueses estão fartos deste sistema democrático. Talvez. Quiçá devêssemos voltar ao sistema feudal. Seria tão agradável. Mas não entendo compararem Cunhal a Salazar. Eu não sou comunista. Se Cunhal chegasse ao poder, talvez se instaurasse uma ditadura de esquerda (altamente improvável, dado a nossa posição geográfica, e a situação geopolítica dos anos 70). Se isso acontecesse, Cunhal também teria o meu desprezo, uma vez que eu não gosto de ditadores. Mas como tal não aconteceu, para mim Cunhal foi um importante defensor da democracia, como Soares.
Fizemo-nos ainda mais pequenos do que somos. Agarramo-nos todos os dias com unhas e dentes à merda populista e medíocre. Não queremos saber de nada que nos abra perspectivas, que nos alargue os horizontes que nos expanda a mentalidade. Quando podemos mudar (o referendo por exemplo) preferimos ficar em casa a queixarmo-nos de tudo e de todos enquanto lemos jornais de merda, livros de merda e vemos programas de Tv de merda. E votamos em Salazar para que o “senhor doutor” fique entre os 10 primeiros. Felizmente que o filho da puta está mais que morto, enterrado e as suas carnes secas e cinzentas de padre da aldeia há muito que foram comidas pelos vermes. Mas o seu espírito continua vivo em nós. Enquanto não o matarmos completamente, nunca seremos um país verdadeiramente do 1º Mundo.
sábado, 24 de fevereiro de 2007
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1 comentário:
Este programa é uma treta, é o que é.
E acho que não foi só aqui que deu broncas deste género. Tanto Espanha como Itália tiveram resultados curiosos com os seus ditadores. Acho que só a Alemanha não se atreveu a nomear o deles.
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