domingo, 22 de julho de 2007

Arriba España y Viva Franco ou É esta a "Iberia" em que queres que vivamos, Saramago?

Quando vou a Espanha gosto muito de comprar El Jueves.

El Jueves, de seu nome completo “El Jueves, la revista que sale los miércoles”, literalmente “5ª-Feira, a revista que sai às 4ª-Feiras”, para quem não saiba, é uma revista satírica semanal e contestatária de humor, com um cunho nitidamente anarquista, republicano e de esquerda. Pensem numa mistura entre José Vilhena e a MAD Magazine, traduzam para espanhol e terão ideia do que eu estou a falar.
El Jueves, como todo bom ícone pop cultural anti-conformista é imparcialmente iconoclasta. Nada nem ninguém de relevo na Sociedade Espanhola está a salvo de El Jueves. Casa Real, Governo, Oposição, PSOE, PP, Opus Dei, Igreja Católica, ETA, figuras da Imprensa, da Arte, do Cinema, da Música, do Desporto, políticos nacionais ou de regiões autónomas espanholas, do Jet Set e as principais figurinhas e acontecimentos sócio-políticos mundiais são semanalmente derretidos com o mais corrosivo (mas fino e inteligente) humor.

Esta semana, El Jueves foi vítima de um sério atentado à Liberdade de Expressão. A sua última capa ofendeu certamente a Família Real, já que um juiz mandou que se apreendessem todas os exemplares desta semana. A capa é esta:



É uma sátira aos incentivos à natalidade oferecidos recentemente pelo Governo de Zapatero. Felipe, o Príncipe das Astúrias a agarrar Letizia numa bela duma canzana, e o texto diz:

“Já te deste conta que se engravidares isto é o mais perto de trabalhar que eu estive na vida?”

Eu sei que o caso é polémico. Eu sei que uma opinião consensual nunca seria alcançada, uma vez que está em causa, tal como nos casos dos cartoons dinamarqueses de Maomé, um conflito de consciências entre quem pensa que a Liberdade de Imprensa é um direito sagrado e não alienável, e quem pensa que há o dever moral da Imprensa impor a si mesma certos limites, de forma a não ofender ninguém nem ferir susceptibilidades e a não cair na Libertinagem de Imprensa. Ambos os argumentos são válidos e correctos.
Eu defendo a liberdade da Imprensa publicar o que bem entender, dentro do tipo de publicação que faz, desde que não falte à verdade e não difunda mensagens de ódio.
Posto isto, há que ter em conta a especificidade de cada publicação. Um jornal ligado à Direita como o ABC evidentemente que apresentará uma notícia tratada de forma a dizer mal de Zapatero, um jornal nacionalista Catalão como o Avui (escrito nessa língua) apresentará uma opinião tendente à autonomia senão independência da Catalunha…e uma revista de humor como El Jueves goza tudo e todos.
A minha opinião é que não entendo como a capa pode ser ofensiva para alguém. Os Príncipes das Astúrias são casados, fodem e têm filhos. Isso parece-me óbvio, até para os mais empedernidos espanholistas monárquico-católicos. As figuras públicas perdem um pouco o direito à imagem. É assim que as coisas são. Quem quer que pudesse ter ficado ofendido com essa revista certamente não lê El Jueves. Quem lê El Jueves são anarquistas, intelectuais de Esquerda, republicanos e nacionalistas galegos, bascos e catalães (embora a revista seja escrita 100% em castelhano e não tenha uma tendência separatista). Eu penso que o verdadeiro problema é que a revista insinuou (oh, coisa grave!) que os gajos da Casa Real são uma cambada de preguiçosos e ociosos!

É assim que El Jueves é. El Jueves gosta muito de gozar a Casa Real (Quando o Rei teve o seu primeiro neto, a capa de El Jueves mostrava ele com o bebé nos braços e a dizer: “Sofia, o nosso neto saiu-nos Republicano. Acaba de me mijar encima) mas porque a Espanha é uma Monarquia Constitucional. Se fosse uma República por certo gozaria o Presidente.

Esta é a minha opinião. Porém respeito quem não pense assim, e quem pense que foi cometido um crime de ofensa pessoal e lesa-majestade.

Mas eu tenho que ficar enojado que a Espanha, que tanto sofreu na Guerra Civil e às mãos de El Caudillo possa em pleno século XXI tomar essa venezuelana atitude de censura e arrogância autoritária. Lá como cá, os velhos fantasmas não se exorcizam nem se evaporam no nada, para sempre presos a esta península meridional. Lá como cá, um pseudo-partido de Esquerda caminha em alta velocidade na contra-mão.

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