1. Eram 6 da tarde de um dia escuro em meados de Outubro, e José K., 35 anos, funcionário bancário de méritos injustamente pouco reconhecidos encontrava-se na plataforma de embarque da Estação do Metro da Casa da Música na Avenida de França, pronto a embarcar com destino à Estação de Sete Bicas na Senhora da Hora, onde se iria encontrar com Josefina B., cabeleireira que o distraía e confortava nas horas vagas e livres.
Como sempre, a aquisição (ou antes, carregamento) do bilhete foi uma experiência traumatizante. José K. não apreciava a máquina de bilhetes. Era preciso um curso intensivo para se familiarizar com todas as nuances, as pequenas especificidades do touch screen. Evidentemente que a informação não era muita. Resumia-se a um mapa na parede, onde a zona urbana da região do Grande Porto se encontrava segmentada em áreas multicoloridas, sendo atribuída a cada área uma letra (normalmente “Z”, “N” ou “C”) seguida de um número para identificar o tarifário do bilhete. José K. não queria de forma alguma ter que pagar uma multa, por isso estudava sempre minuciosamente o mapa. O que era desarmante é que lhe parecia que as letras, números e mesmo cores variavam de estação para estação. E ainda que, nesta mesma estação, as letras, números e cores nunca eram as mesmas de dia para dia. Atribui a isso cansaço mental, provocado por stress no escritório e no seio da sua família.
Introduziu o bilhete na máquina, viu que a última vez que o tinha carregado tinha sido com “Zona 3”, voltou a carregar mais uma viagem da Zona 3 (embora lembrava-se, ou parecia lembrar-se, que da outra vez que tinha estado com Josefina B. tinha pago somente 2 zonas. Porém, quem o poderia afirmar? Preferia pagar mais alguns cêntimos do que se meter em confusões com Die Metro von Porto!), voltou a tirar o bilhete.
Quando se preparava para pagar verificou que não tinha moedas trocadas. Como a máquina não aceitasse notas, dirigiu-se a um segurança, alto e esguio, de longos bigodes grisalhos que se encontrava de sentinela encostado à parede. Pegando numa nota de €5,00 perguntou-lhe se poderia fazer o favor de lhe destrocar.
Olhando José K. com gelados olhos azuis, o segurança disse somente:
- Não posso ajudá-lo. Mesmo que quisesse, não me é dada essa opção. Não sou mais aqui que um simples "camisa castanha".
José K. tentou obstar, mas o segurança só lhe disse:
- Meu amigo, quem pensa que é? Cada acção que faça dentro do Metro pode servir para a sua condenação!
E virou-lhe as costas. Perplexo, e não vendo mais ninguém na estação, José K. só teve a opção de introduzir o seu cartão de débito na ranhura destinada para o efeito. Meteu o cartão, tirou o cartão, mas ao introduzir o PIN, notou que os botões numéricos do Multibanco estavam muito presos e não reagiam, por mais força com que carregasse. Por fim a operação foi anulada por ter sido ultrapassado o tempo necessário para a operação. Suspirou. Voltou a introduzir e retirar o cartão e tentou martelar as teclas. Repetiu 2 ou 3 vezes a operação até finalmente, quando estava para desistir, conseguiu fazer a transacção.
Passou o bilhete na máquina de validação do Cartão “Andante” e desceu as escadas rumo à gare. Ali chegado, viu que o próximo metro chegaria daqui a 3 minutos. Para relaxar da aventura do bilhete, foi tomar um café numa das muitas máquinas de comes e bebes com que Die Metro von Porto dotou as estações subterrâneas. Tirou café a escaldar, quando ouviu a voz feminina automática:
“Estimado Cliente, o próximo veículo a dar entrada na linha …1 tem como destino a estação…Senhor de Matosinhos!”.
Atónito viu o comboio a arribar. Olhou para o placar electrónico. Por certo não deviam ter passado 3 minutos. Estarrecido, viu que o número de minutos escrito era “1”, embora só se tivessem passado poucos segundos desde a última vez que olhou.
“O Metro do Porto chega sempre a tempo” era a lei principal de Die Metro von Porto!
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